Luiz.Goulart 07/09/2021À esquerda do paiUm livro duro, difícil, construído a partir de uma narrativa que se assemelha a um mergulho em apneia ou a um caleidoscópio de cicatrizes abertas.
A história segue os caminhos — ou os descaminhos — de André, filho do meio de uma família religiosa de agricultores imigrantes, uma verdadeira metáfora invertida sobre a parábola bíblica do filho pródigo. Já na primeira página, André é encontrado pelo irmão mais velho Pedro (não à toa, nomes de dois irmãos apóstolos) em um quarto sujo de pensão após ter fugido da opressiva família cristã sobre a qual o pai, libanês rígido, impunha uma disciplina feroz, em contraste com a mãe, pura ternura e afeto.
O jovem André sofre sob essa pressão e se sente cindir nas tensões desses polos em permanente disputa por sua alma. Em torno dele, gravitam os demais irmãos, entre eles a meiga Ana (Simone Spoladore, nas telas), que desperta em André convulsivos desejos incestuosos.
O livro tem uma construção não linear de prosa poética como um jorro de fluxo de consciência, levando o leitor a mergulhar nas suas páginas sem qualquer garantia. Um clássico obrigatório que precisa ser lido sem pressa, com o devido tempo.
E sobre o tempo, sobre a virtude da paciência, transcrevo trecho de um dos discursos do patriarca da família, belissimamente interpretado no cinema por Raul Cortez: “... rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira...”
Nos EUA o filme que aqui teve o título homônimo ao livro, lá recebeu o título de À Esquerda do Pai. Só lendo o livro ou vendo o filme para entender
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