Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Caio.Immanuel 03/06/2024

"Sempre ouvi do pai que os olhos são a candeia do corpo"
O que dizer de Lavoura Arcaica? O início já é um baque e eu, particularmente, gosto muito disso. Que livro incrível, que escrita incrível!! Isso, portanto, não significa que seja fácil, não mesmo.
Algumas vezes é preciso voltar para que nada passe despercebido, o autor brinca com o leitor nesse sentido. Eu amei... O final é uma pedrada na nuca, tudo o que eu precisava de explicação foi saciado.
Recomendo, muito mesmo.
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Rodrigo.Silva 24/07/2024

Pura pretensão. Uma prosa poética grudenta, uma historinha boba. Tipo Um Copo de Cólera também, só que Um Copo de Cólera tem a história pior e é menos chato. Incrível um cara que só escreveu esses dois livros e mais um ser incensado como é
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Luisa1110 24/07/2024

Na sua ausência eu criei a sua imagem: do terreno, o oculto celestial começa. A ausência é o guia. A ausência me ensina sua lição: Se não fosse pela miragem você não teria sido firme... E no vazio, desmontei uma letra de um dos alfabetos antigos e me apoiei na ausência. Nenhum "aqui" exceto "lá". E nenhum lá, mas aqui. (MAHMOUD DARWISH)

Um livro que parece dedicado aos filhos daqueles que perderam a terra no oriente médio me fez pensar justamente na ausência. O desejo por Ana ( eu ) parece um escape poetico que condensa o desejo pela realidade perdida e, agora, proibida: mulher forte, a terra original, o animalesco, a liberdade. E a tentativa de escapar da realidade forjada da família, que esconde seus elementos de saudade e de desejo.

A ausência permite a fantasia e a conexão com o eu "original".
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Angelica 30/04/2010

Um livro denso, difícil. Mas se conseguirmos superar o estranhamento das primeiras páginas, acabamos por mergulhar no mundo criado pelo autor, que é muito hábil em descrever cenas que apelam a todos os sentidos, fazendo com que tomemos parte nelas. Tudo a ver com a fenomenologia de Merleau-Ponty, sem dúvida alguma. Temos acesso a um dos perfis da história, com a possibilidade de criarmos outros a partir de nossa(s) leitura(s). Isso é arte.
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Leonardo 12/09/2013

Um livro sobre desejos reprimidos
Com esse livro, completei a leitura de todos os romances de Raduan Nassar. Além de Lavoura Arcaica, seu outro romance é Um copo de cólera, resenhado aqui. E só. Escreveu alguns contos, publicados na obra Menina a caminho. Aposentou-se ainda em 1984 para dedicar-se à sua fazenda, no interior de São Paulo.
Apesar da obra tão curta, Nassar é admirado pela crítica e seus dois romances viraram filmes também bastante elogiados. Um copo de cólera é uma pequena pérola. Um livro curto, mas arrebatador, que diz muito. Encontrei Lavoura Arcaica no sebo e nem titubeei. Finda a leitura, fica evidente o talento de Raduan Nassar. Lavoura Arcaica conta uma história simples: André foi criado no seio de uma família simples e de valores bem tradicionais, na zona rural. Seu pai é uma figura sempre presente, com seus sermões sobre o tempo e sobre os valores religiosos. André não suporta aquela vida e foge para a cidade. Seu irmão mais velho, Pedro, encontra-o numa velha pensão e leva-o de volta para casa. A história deste retorno é entrecortada com a conversa entre André e Pedro, quando o irmão mais novo conta os motivos que o levaram a fugir de casa.
A maneira como Raduan Nassar conta, entretanto, não é usual. Ele explora muito os sentidos, a intimidade de André, expressando-se sempre por meio de muitas metáforas. O livro todo passa a impressão de ser poesia travestida de prosa, a começar pela primeira cena, que descreve o jovem André se masturbando no chão do seu quarto de pensão.
Os capítulos, apesar de curtos, não têm parágrafos. É como se o protagonista vomitasse tudo, numa torrente inquietante de pensamento. Se, de um lado, a narrativa de André é confusa, não são menos misteriosos (e belos!) os sermões de seu pai sobre o valor do tempo.
Vejam abaixo uma coleção de ais, bem ao estilo bíblico, dirigidos àqueles que não têm paciência, que desafiam a capacidade transformadora do tempo:
“Não se profana impunemente ao tempo a substância que só ele pode empregar nas transformações, não lança contra ele o desafio quem não receba de volta o golpe implacável do seu castigo; ai daquele que brinca com fogo: terá as mãos cheias de cinza; ai daquele que se deixa arrastar pelo calor de tanta chama: terá a insônia como estigma; ai daquele que deita as costas nas achas desta lenha escusa: há de purgar todos os dias; ai daquele que cair e nessa queda se largar: há de arder em carne viva; ai daquele que queima a garganta com tanto grito: será escutado por seus gemidos; ai daquele que se antecipa no processo das mudanças: terá as mãos cheias de sangue; ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio, ou quem sabe sepulcral, mas sempre a negação de tanta intensidade e tantas cores: acaba por nada ver, de tanto que quer ver; acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir; acaba só por expiar, de tanto que quer viver; cuidem-se os apaixonados, afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista, arrancando dos ouvidos os escaravelhos que provocam turbilhões confusos, expurgando do humor das glândulas o visgo peçonhento e maldito; erguer uma cerca ou guardar simplesmente o corpo, são esses os artifícios que devemos usar para impedir que as trevas de um lado invadam e contaminem a luz do outro, afinal, que força tem o redemoinho que varre o chão e rodopia doidamente e ronda a casa feito fantasma se não expomos nossos olhos à sua poeira?”
E o pai continua seu sermão, que, como é possível perceber, concentra-se muito na pureza e na vigilância em relação à carne. Isso porque André é um sujeito de sexualidade atormentada, nutrindo inclusive um amor incestuoso por sua irmã.
Ler Lavoura Arcaica requer atenção completa, ou você se perde e não desfruta da prosa tão rica. Não é, portanto, um livro fácil. Mas a recompensa é grande.


site: http://catalisecritica.wordpress.com/
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Melo 12/01/2014

Minha inspiração
Raduan Nassar é o autor que, através de Lavoura Arcaica, serviu-me como inspiração total para meus livros (ainda não publicados). Devo dizer que Wanderley Assis apresentou-me tal autor e mal sabe ele o quanto fez-me bem à psique.
A introspecção de André -- revelando todo o lado oco de sua família que é aparentemente muito sustentada sobre si, exibindo além do mais uma narrativa que explora a linguagem, o novelesco, o lírico, o belo, o ser -- é de uma grandeza, uma maturidade de escrita, uma singularidade que eu desconhecia nas escritas julgadas como Contemporâneas.
Lavoura Arcaica é daquele tipo de livro que entra em sua vida e, de tempos em tempos, seu cérebro haverá de pedir-lhe para lê-lo novamente porque você sentirá falta da história chocante-bela, do modo de narrar divisor de águas, da profundidade sentimental de um filho tão padecido de seu amor-pecado, de seu desejo-monstro, que toca a capacidade de Kafka, em Carta ao Pai, de lhe dominar completamente.
Sou um grandioso fã de Raduan Nassar.
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Jéssica Férrer 18/06/2014

Prodigalidade, lirismo e tragédia
O romance Lavoura Arcaica é publicado pela primeira vez em 1975, pela editora José Olympio. Narrado em primeira pessoa, conhecido como a ‘parábola do filho pródigo às avessas’, o livro aborda as aspirações e contradições de André, proveniente de uma numerosa e tradicional família. Na fazenda, a tradição, a religiosidade e o trabalho são leis. O protagonista decide partir de casa por duas razões interligadas: primeiro por não suportar mais as duras imposições morais presentes nos preceitos familiares, e, sobretudo, pela paixão incestuosa que ele nutre pela irmã Ana.
A obra está dividida em duas partes: ‘A partida’ e ‘O retorno’. A primeira é composta por vinte e um capítulos, e inicia-se com o personagem já longe de casa, recebendo a visita do irmão mais velho que o vai resgatar. O tempo da narrativa não é linear. A partir do encontro na pensão em que ocorrem os diálogos entre os irmãos, são intercalados capítulos em que estão inseridos flash-backs e analepses de André. Entre outras coisas, ele rememora a infância na fazenda, as festas familiares, os sermões do pai, os cuidados da mãe e a relação incestuosa que ele consuma com a irmã. A segunda parte inicia com o regresso do personagem. Formada por por nove capítulos, narra a volta de André à fazenda, a alegria que sua presença causa aos integrantes da família, o diálogo do filho com o pai, o encontro de André com o irmão mais novo, e, por fim, a festa de comemoração por sua chegada, onde acontece o desfecho trágico.
A linguagem elaborada, predominantemente lírica, é um dos pontos de maior relevo em Lavoura Arcaica. A pontuação e a disposição dos parágrafos também se dão de modo peculiar, principalmente na primeira parte do romance, em que a todos os capítulos são escritos num parágrafo único , acentuando, assim, os fluxos de consciência do narrador-personagem, que são recorrentes na obra e sobressaem pela rebuscada escolha vocabular.
Gildo Henrique 07/06/2016minha estante
Estou terminando Letras/Literaturas de Língua Portuguesa no IFF e terminei hoje de ler o livro de Raduan Nassar (que, aliás, foi tema de tesa de minha professora). Confesso que esperava mais. Acho que estão vendo chifres em cabeça de cavalo. Uma bela narrativa emoldurada de vazios, com uma construção estilística que privilegia vírgulas e parênteses, mas que peca na arquitetura psicológica do personagem-narrador: como explicar a erudição (ele chega a pronunciar "sintaxe") num camponês que nunca saíra das cercanias da fazenda? O filme, acabei de assistir a ele agora: fiel ao livro: aos monólogos repetitivos e prolixos, à chatice das sonolentas e turvas cenas, ao silêncio de uma câmera que busca a pena do escritor pelo cenário. Ainda sobre o filme: crianças acenando para o trem, na zona rural e vestidas de camisa branca...? Tenha dó.




Valério 10/11/2014

Fora do comum
Breve história. Forte, densa, tensa.
O protagonista está em conflito existencial.
A história começa com seu irmão mais velho o buscando para que torne à casa paterna. E então, em reminiscências cuidadosamente descritas pelo autor, em desenrolar sucessivo de emoções profundas, o leitor vai sendo inteirado da vida da família até ali.
Ares de drama shakesperiano, questiona os valores tradicionais, com digressões que incluem a retidão e o pecado, Deus e o Diabo.
Paixão, dor, incompreensão, dúvida, enfrentamento, sufocação, ansiedade, luta, nojo. Algumas, mas não todas as sensações contidas e transmitidas pelo livro.
Leitura poderosa. Sem dúvida, um dos maiores clássicos da literatura brasileira e não tem o destaque que merecia.
Contudo, leitura difícil, mais recomendada para quem já adentra mais profundamente o mundo literário.
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Sabrina 11/04/2015

Genialidade de Raduan Nassar
Mais um livro incrível que está, sem dúvidas, na lista de livros indispensáveis da literatura brasileira.
Raduan Nassar retrata em Lavoura Arcaica a história de André, um filho desertor que abandona o seio familiar em busca da realização dos seus desejos reprimidos. Trata-se de uma tragédia em uma atmosfera bem brasileira que trás a tona temas como a luta entre a tradicionalidade e a liberdade e entre o desejo e a resignação em prol do bem comum.
A narrativa é típica de Raduan Nassar, frases enormes onde em um "parágrafo" inteiro encontramos, quando muito, apenas um ponto final. Uma escrita que simula a fala colérica de seus personagens e faz com a que leitura seja atraente e se dê de maneira ágil, acompanhando diálogo frenético que André trava, na maioria do tempo, em seu próprio plano interior.
Duas coisas que especialmente me chamam atenção no livro são o forte intertexto bíblico que o autor estabelece não só com a parábola do Filho Pródigo e a parábola do Semeador, por exemplo, mas também com o próprio jogo de nomes entre os irmãos, André e Pedro, que rememoram os discípulos de Jesus, Andréas (André) o primeiro a ser chamado, aquele que é detentor da coragem, e Kephas (Pedro) em que inevitavelmente vem-nos a cabeça a passagem "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" que é aquele que vai em busca do filho estraviado, sobre os quais o pai fixou como em uma pedra os valores familiares. Outra coisa que não poderia deixar de se destacar é maneira como o tempo é tratado durantes a obra, tão interessante quando os próprios conflitos interno de André são os sermões de seu pai à mesa de jantar que falam sobre o trabalho o tempo e a justiça e a interpretação quase proustiana que André tem sobre o tempo, principalmente quando fala da mãe.
Não fosse suficiente a maré de intertextos Bíblicos e minha suspeita de um intertexto proustiano, é praticamente impossível dizer que a obra de Raduan não conversa com Machado de Assis, não somente na descrição de Ana, que tudo tem a ver com Capitu, mas também em outros aspectos principalmente no que toca à infância de André que rememora bentinho.
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adriana.sydor 08/06/2016

para onde estamos indo? estamos indo sempre para casa
a coisa boa de ser ignorante é a condição inesgotável para grandes surpresas.

mais de quatro décadas depois do lançamento, conheci Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. obviamente já me tinha sido indicado e por duas vezes já o tinha comprado. nenhuma delas durou muito aqui na estante, logo passaram para as mãos dos amigos atentos: o primeiro me disse que adorava e não tinha mais; a segunda confessou que estava em seus planos de leitura. os dois saíram aqui de casa, com datas de mais de cinco anos de diferença, com o livro debaixo do braço e um sorriso estampado no rosto.

coisa de um mês mais ou menos me segurei a novo exemplar, 3ª edição e 3ª tentativa, e jurei que nada mais seria lido antes que lhe dedicasse vistas. menti. ainda me aventurei, por sedução, a uma outra coisinha aqui que vale comentário, mas não já.

finalmente cheguei ao Lavoura. e agora entendo essa espécie de acaso que me fez demorar tanto para chegar a essa maravilha. acho que não tinha tutano suficiente para enfrentá-lo; se ainda sou literariamente imatura hoje, livros atrás então, eu perceberia muito menos.

quanta beleza, que ritmo de escrita, que narrativa! todas as exclamações do mundo estão em mim. queria que essa tapeçaria com as palavras, esse jogo de dizer diferente, esse encantamento que pode ser visto em qualquer uma das páginas, todas as imagens construídas tão claramente a emprestar objetos e qualidades de um lado para explicar outro, queria que tudo isso e mais o que não consigo explicar saltasse das páginas e se alojasse em mim com a mesma força que a emoção da leitura. queria que, ao ler Raduan Nassar, eu também fosse Raduan Nassar, como se os seus pedaços se grudassem em mim para sempre e me transformassem a pena.

ele começa contando assim: “Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo”. início de grande viagem…
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Jhons Cassimiro 11/11/2016

Ao redor da mesa onde a família se reúne para ouvir o Maktub imposto pelo pai, pelo avô, pelo bisavô... do lado direito, se encontram os filhos mais velhos e promissores, capazes de levar à frente as normas do que é certo e justo, garantindo a constância da vida. Do lado esquerdo estão a mãe e os filhos mais novos, considerados o galho fraco da árvore, aquele que apenas ensina afeto e transborda um amor visceral, como se isso fosse pouco.

Existe um jeito antigo de fazer as coisas, de entender o mundo, de se portar na vida.

Maktub. Está escrito que não se pode contrariar as disposições do tempo, se revoltar contra o caminho que ele traça, pois só assim encontra-se o equilíbrio. O equilíbrio que faz a família permanecer unida em torno das leis invisíveis, mas vivenciadas intensamente a cada segundo durante um longo dia de trabalho na lavoura, no arado da terra, no feitio do pão, sem espaço para contestações a respeito de uma possível alteração nesse curso de vida.

O pai ensina as regras a serem vivenciadas, a mãe vive o amor sem ser ensinado. Os filhos mais novos são as "vitimas" desse amor que para eles transbordava com mais intensidade. Mas seria ele suficiente para manter esses filhos dentro das normas que o pai incutia em suas mentes?

A tradição vinha de longe, o tempo era o senhor delas. As regras se formaram e as famílias herdaram o peso de carregar para adiante aquilo que estava escrito. Ninguém seria louco de desafiar o tempo, as regras, pois ao final o resultado poderia ser fatal.

"O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas, e com as farpas de tantas afiadas tecer um crivo estreito, e sobre este crivo emaranhar uma sebe viva, cerrada e punjante, que divida e proteja a luz calma e clara da nossa casa, que cubra e esconda dos nossos olhos as trevas que ardem do outro lado; e nenhum entre nós há de transgredir esta divisa, nenhum de nós há de estender sobre ela sequer a vista, nenhum entre nós há de cair jamais na fervura desta caldeira insana, onde uma química frívola tenta dissolver e recriar o tempo." [Raduan Nassar em Lavoura Arcaica]

O pai também amava sua família e prezava pela união de seus filhos, mesmo que houvesse entre eles uma ovelha negra, desgarrada. Em sua teoria, estava disposto a trazer de volta e acolher sobre seus braços, o filho pródigo, mas para isso o preço de seu amor seria a obediência as regras sempre impostas.

Não obstante há de se considerar que muito mais arcaicas que as leis da sociedade, são as leis da natureza, onde estão inscritas as forças perturbadoras do desejo.

O filho desgarrado não cumpria os requisitos que o pai necessitava. O desejo estava à solta, o amor que o pai valorizava possuía valor ambíguo, não era incondicional.

"Ao contrário que se supõe, o amor nem sempre aproxima, o amor também desune."

A chama do desejo, da contradição estava acesa e ao contrario do que pensava o pai, deu-se um curso novo ao destino. Ele já havia sido drasticamente traçado, estava escrito. Maktub.

Publicado originalmente em minha página no site:
© obvious
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Fabíola 25/02/2017

A inversão da parábola
Adiei bastante essa leitura...O avançar de páginas me embriagava com sentimentos maléficos...Raiva, escárnio, nojo, náuseas, incredulidade...
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Uma resenha extremamente difícil de ser realizada.
Como ler tal obra e não permitir que tamanha escuridão invada nosso pensamento...
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O livro é absolutamente lírico, uma prosa poética repleta de detalhes alencarianos e reflexos de Saramago. Nassar conta a história de uma família ortodoxa cristã descendente de libaneses, sendo possível observar o conservadorismo do século XIX.
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É uma obra que destrói de forma contundente vários princípios de uma ordem tradicional do espírito. Sua trama gira em torno dessa família aprisionada pelos grilhões de uma fé cega.
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O livro é articulado através de memórias e digressões do antagonista André.
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A leitura exige um grande amadurecimento literário, percebi que se o lesse a alguns anos atrás não teria aproveitado .
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Tudo se inicia com a fulga de André devido a sua ávida busca...Na verdade uma fome insaciável , uma escuridão perversa...
Toda família sofre com a falta de sua presença perturbadora.
Sua família é composta pelo pai Ióhana, sua mãe , quatro irmãs (Rosa, Zuleika, Huda e finalmente Ana) e por dois irmãos Pedro o tronco grosso, mais velho , e o caçula Lula.
Durante toda história, é preciso um olhar atento para entender o contexto , as reflexões, referências, conturbações psíquicas, o anarquismo de André.
Lavoura arcaica é uma inversão da parábola tão conhecida pelos cristãos do filho pródigo. Neste caso caracteriza um perdão do pai que nunca será aceito, a desunião da família é inevitável e o sexo entre irmãos para mim algo venenoso, inconcebível.
Se já não bastasse o incesto com Ana, (observa-se em todo livro a obsessão por sua irmã, são utilizados diversos recursos estilísticos para retratar de forma bela tão terrível ato...Pomba, Ana e inocência são uma coisa só) André em seu retorno ao conversar com seu irmãozinho sonhador (Lula) não resisti aos seus olhos primitivos que tanto lembram o de Ana e o sodomiza.
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Sua qualidade estética é inegável, possuí uma linguagem elaborada com plasticidade. Arremete claramente a morte da ordem.
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Muito difícil para mim avaliar tal obra. Por isso preferi não dar nota.
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Jéssica - Janelas Literárias 03/05/2017

Invertendo a parábola do filho pródigo, Lavoura Arcaica traz o protagonista André, de 17 anos, que abandona sua família, fugindo da autoridade de seu pai e da paixão que sente por sua irmã Ana, até que seu irmão mais velho, Pedro, o leva de volta para casa. ?
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O enredo aparentemente simples, de raros acontecimentos, dá espaço para que a linguagem se sobressaia. Nassar faz da escrita uma fonte inesgotável para sua lavoura, caracterizada por um acentuado lirismo e composições, minuciosamente elaboradas, de cenas quase sensoriais ou sinestésicas. ?
?
A figura do pai desempenha um papel determinante e altamente simbólico na narrativa. O discurso paterno, que sempre aparece para salvaguardar as tradições e valores campestres arcaicos, como a importância do trabalho, da paciência, a negação do corpo e silenciamento das paixões. A palavra do pai é lúcida, bem empregada, proverbial e refinada. Esta rigidez ética e moral, mas também estética, confere ao pai um perfil quase inumano. ?
?
André, em sensível contraste, recusa o verbo da família, sua fala é afobada, colérica e explosiva. Com sonoridade marcada, André não diz, André jorra, convulsiona. Sua prosa tem ritmo acelerado e períodos longos o que deixa o leitor sem fôlego, exausto, sem descanso até o fim do capítulo. A gente convulsiona junto, compartilha da sua ânsia e delírio. ?
?
Esta polaridade nos discursos, como se pode ver, é completamente definida pelo tempo. A voz paciente e lenta do pai, ante o desespero apressado de André. Mas também é perceptível no próprio conteúdo das falas, quando Nassar contrapõe a visão do pai e filho em relação à percepção do tempo, num dos textos mais lindos que já li em toda a minha vida. ?
?
A  família patriarcal é  simbolicamente descrita pela mesa, o lugar em que todos se sentam, e sobretudo pelo lugar em que se sentam. À direita, o galho espontâneo, forte, puro. À esquerda o tronco viciado, a cicatriz, a mãe, silenciosa mãe, que aparece na narrativa quase sem voz, é mais uma presença, um toque, um vulto. A mãe é só tato, o pai é só verbo. Tudo que André almeja é encontrar seu lugar na mesa, mais propriamente, quer a cadeira do pai. ?

Daí vem desejo de ruptura de André, que é expresso já no momento em que ele viola sua irmã, violando também a família, a tradição, a lei, numa luta contra a interdição familiar do desejo, do corpo, do sangue, da alma, enfim. Ele foge em busca de libertação para este corpo, autoconhecimento e formação de sua identidade, que é aplacada pela imposição da repetição da identidade paterna. Mas o seu destino é inevitável, não há fuga da família, "estamos indo sempre para casa".
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Anoca Freitas 02/01/2018

Um sem-fim de poesia
Se eu tivesse lido "Lavoura arcaica" em 2017, acho que teria sido o melhor livro, porque é um texto recheado de conflitos e reflexões, descritos em metáforas extremamente poéticas. Como falei em publicação anterior, há, em cada linha, um sem-fim de poesia. Cada página tem algum ensinamento, ora simbólico, ora direto e cru, sobre família, valores, moral, amor, virtudes. Sobre o tempo.

Uma das ideias principais é a de que a paciência é a maior das virtudes, porque "só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas" (p. 57), que não podemos dar passos maiores que nossas pernas, porque isso seria "suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa" (idem). Mas aí "eu tinha simplesmente forjado o punho, erguido a mão e decretado a hora: a impaciência também tem os seus direitos!" (p. 92). É tudo muito humano.

É um livro que rememora que há "o tempo de aguardar e o de ser ágil"; que às vezes temos as mãos atadas pelas circunstâncias, mas isso não significa que devemos, espontaneamente, atar também nossos próprios pés, mesmo que não nos importemos mais com o rumo do vento, se ele nos leva para a frente ou para trás (p. 165).

Recomendo demais. ?
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