Fabio Shiva 31/03/2020
Sinestesia
De todos os autores que já li, Georges Simenon é, sem dúvida, o escritor mais sinestésico. Isso explica parte do irresistível fascínio provocado por suas histórias: os cenários de Simenon vivem e respiram, cheios de cores, texturas, sons, odores e sabores.
Essa impressão ficou mais nítida do que nunca durante a leitura desse irretocável “Maigret na Escola”. A primavera está chegando em Paris, trazendo uma atmosfera inconfundível, que se assemelha ao vinho branco. E é por isso que o famoso comissário Maigret aceita tirar uns dias de folga para investigar um caso fora de sua jurisdição, atraído pela perspectiva de degustar ostras com vinho branco... Só que quando lemos isso, na vívida e sinestésica prosa de Simenon, não é que sentimos o cheiro e o sabor do vinho branco?
Logo em seguida, quando a trama se adensa e todos se reúnem na taberna da pequena vila, o cheiro de vinho é tão forte que provoca náuseas em Maigret. E não é que sentimos nós, leitores, os mesmos enjoos do comissário?
A sinestesia é parte do magnetismo de Simenon, mas não o deslinda por completo. Há também a sempre admirável composição de seus tipos humanos, que perduram na memória tempos depois de terminada a leitura. No romance policial de Simenon, o mistério a ser solucionado é apenas um detalhe. E é por isso que ele é inigualável!
https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/03/maigret-na-escola-georges-simenon.html
site: https://www.facebook.com/sincronicidio