whatsmaryreading 17/04/2024
Há Machados variados para diferentes leitores.
? "Helena" de Machado de Assis (5/5 ?)
Helena, publicado em 1876, é um romance da primeira fase da obra de Machado de Assis, marcada pelo Romantismo.
É importante lembrar que o contexto social em que a história se passa, o Segundo Império brasileiro, era marcado por valores patriarcais, escravidão e racismo. Isso influencia diretamente o comportamento dos personagens e as relações entre eles.
Em meio à aristocracia carioca do século XIX, Helena, órfã de origem humilde, é reconhecida em testamento como filha e herdeira do Conselheiro Vale, e é acolhida posteriormente pela abastada família, onde floresce um amor proibido entre ela e Estácio, filho do conselheiro.
Unidos por um sentimento avassalador, mas separados pela crença de que são irmãos, Helena e Estácio vivem um drama intenso, marcado por repressão, sofrimento e a constante luta contra seus desejos.
Mas "Helena" é mais do que apenas uma história de amor. Machado de Assis, com sua maestria habitual, tece uma teia complexa de personagens, cada um com suas próprias motivações, desejos e conflitos.
Estácio, filho do Conselheiro Vale, representa a figura do homem dividido entre o amor e o dever. Educado em meio aos valores tradicionais, ele carrega consigo a responsabilidade de honrar a família e seguir as expectativas sociais.
O amor por Helena o atinge como um raio, despertando em si sentimentos jamais antes experimentados. Ele se vê dividido entre a paixão avassaladora por Helena e o dever filial que o obriga a renunciar a esse amor.
Sua bondade e senso de justiça o impedem de magoar Helena. Ele tenta reprimir seus sentimentos, acreditando que o melhor para ambos é seguir caminhos separados. Mas a força do amor o atormenta, criando um conflito interno que o consome.
Estácio se debate entre a felicidade pessoal e a obrigação moral. Ele questiona as regras sociais que o impedem de viver seu amor, mas se sente preso por elas. Sua luta interna o torna um personagem complexo e comovente, despertando a empatia do leitor.
Helena, por sua vez, é retratada como uma mulher forte e independente, que desafia as convenções sociais da época em busca de sua felicidade. Sua inteligência e sensibilidade a diferenciam dos demais. Ela observa o mundo com perspicácia, questionando as convenções sociais e buscando seu lugar na sociedade. Seu desejo por liberdade se choca com as expectativas impostas a ela pela família e pela sociedade.
O amor por Estácio desperta em Helena uma paixão avassaladora. Ela se entrega ao sentimento sem hesitar, desafiando a lógica e a razão. Mas a crença de que são irmãos a atormenta, criando um conflito interno que a dilacera.
O amor entre Helena e Estácio é marcado pela intensidade, pela paixão e pelo sofrimento.
A obra também é um retrato fiel da sociedade brasileira do Segundo Império, marcada por desigualdades, hipocrisia e preconceitos. Machado de Assis não hesita em criticar os costumes da época, expondo as contradições de uma sociedade em transformação.
Ao longo da história, somos presenteados com a genialidade da escrita machadiana. Ironia, humor ácido e crítica social permeiam o texto, o tornando único. O autor manipula a linguagem com maestria, criando suspense, personagens memoráveis e reflexões filosóficas sobre o amor, o destino e a natureza humana.
"Helena" é um clássico da literatura brasileira que, a cada leitura, revela novas camadas de significado e encantamento.