A Menina Morta

A Menina Morta Cornélio Penna




Resenhas - A Menina Morta


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Carlos Nunes 27/01/2020

Fenomenal
Nunca tinha ouvido falar desse livre e nem mesmo do autor, e qual não foi minha surpresa ao saber que ele é meu conterrâneo! Esse livro me foi apresentado com a indicação fortíssima de que o lesse, pois era maravilhoso. Leitura trabalhosa, principalmente por ter que ler no PC (as raras edições disponíveis estão proibitivas), mas MUITO válida! Um romance psicológico intenso, claustrofóbico, misterioso, com uma atmosfera (achei isso genial) totalmente gótica em um ambiente quente e ensolarado. Um romance quase que só com personagens femininas (ou poucos homens que aparecem na trama quase não têm importância), passado inteiramente em uma fazenda de café em algum ponto próximo à divida entre Minas e Rio, nos últimos anos da escravidão. Já de cara nos deparamos com o velório e o sepultamento da menina do título - da qual não sabemos nada, nem o nome - cuja morte vai alterar totalmente a vida e os relacionamentos entre os moradores da fazenda, sejam eles a família, os empregados ou os escravos. Aos poucos, coisas estranhas começam a acontecer nessa fazenda, e o clima de mistério e segredo vai aumentando, até descambar de vez com o retorno da jovem Carlota, irmã mais velha, que estava estudando na capital, e volta para a fazenda para assumir seu papel de filha e herdeira. Apesar de não haver quase acontecimento nenhum - a narrativa é bem lenta, difícil no início, mas essa atmosfera vai envolvendo o leitor até conquistá-lo por completo. Permeando tudo isso, um retrato cru (e contundente) da relação entre a classe branca dominante e a grande massa escrava. Uma obra magnífica, infelizmente relegada ao limbo literário brasileiro. Análise mais completa no meu vídeo (link abaixo)

site: https://youtu.be/I4KHQ3IKRRc


marcelo.batista.1428 11/11/2018

Romance que retrata uma fazenda escravagista brasileira, com enfoque no drama psicológico que envolve as mulheres que vivem na Casa Grande. Foi interessante perceber o quanto a vida feminina era comedida e controlada desde o acordar ao dormir. O que se veste, quando sorri, com quem conversa, o que se fala.... Tudo pode ser usado contra ti (o romance foca no que se perde mesmo, há pouco lugar para felicidade), e não à toa, o sofrimento mental é presente, e muitas vezes, grave. Muito pouco se aborda da vida na senzala, e das questões masculinas. Narrado com uma perspectiva hermética e muito dramática (demais para o meu estilo), o livro é bem mais extenso do que o prazer que tive em lê-lo.
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Glauber 03/07/2020

Que livro!
Arrebatador do início ao fim. É incrível como, em cada linha das 458 páginas, o estilo poético e intimista se mantém.

Junto a isso, há também uma aclimatação gótica generalizada e em cada detalhe.

Achei fascinante o jogo de luz e sombra que o narrador faz nas descrições dos espaços físicos e nas ações.

A história se passa em uma fazenda no interior paulista, em uma época de quase fim da escravatura. Há, portanto, um contexto de decadência e transição, refletido nas vivências dos personagens.

Personagens esses, aliás, construídos com profundidade, tendo suas humanidades expostas na narração. Além disso, as relações entre elas, com seus desencontros, são bem representadas por suas figuras passando para lá e para cá feito fantasmas nos corredores da casa grande. Uma combinação genial de movimentação ao mesmo tempo metafórica e literal.

Os escravos também são apresentados de maneira introspectiva, indo ao fundo da alma. A dor da escravidão é mostrada a todo momento, mesmo quando não dita diretamente.

O enredo se desenrola a partir da morte da filha dos Senhores da terra. A gente, acompanhando as reações de todos, percebe que a criança era um fio de luz nas vidas de todos. E o efeito de sua perda toma a primeira parte da obra. Na segunda parte, sua irmã mais velha chega e logo recai sobre si a herança de ser a nova dona. Essa personagem é bem interessante, sua construção condensa quase toda a discussão da obra e isso se confirma detalhe a detalhe até um desfecho poeticamente poderoso.

Fiquei fã do autor e lerei outras obras dele. Esse livro se tornou um dos meus favoritos da vida. Impactantes, forma e conteúdo.
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Leiturassandra 11/09/2021

Longo...
Escrito em 1954 por Cornélio Penna, o romance conta a história de personagens variados que viviam na fazenda do Grotão, no Rio de Janeiro. Tudo gira em torno de uma menina, filha caçula dos senhores da fazenda, que havia morrido. A história já começa com os preparativos para o velório.

O interessante é que em nenhum momento é citado o nome da menina, sua idade ou o motivo de sua morte. Tudo o que se sabe é que ela era muito amada por todos, família e escravos, uma vez que a história é narrada no tempo da escravidão.

A partir da morte da menina, a vida da fazenda também se esvai aos poucos. E, durante a narrativa, conheceremos os diversos moradores da fazenda, bem como detalhes da vida dos escravos.

A leitura é bem longa e em alguns momentos, cansativa, uma vez que a obra tem mais de 400 páginas. Mas gosto da oportunidade de ler algo diferente do que estou habituada.

A minha edição é de 1970, mas me parece que livro foi novamente publicado recentemente.
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Val Alves 26/12/2021

Uma menina morta no meio de uma família morta
Fiquei com a sensação de muitas pontas soltando final, mas mesmo assim a leitura geral foi boa e agradável, boa parte devido à escrita limpa, fluida e sem os excessos comuns nos romances históricos. O tema da escravidão inicialmente parecia ser apenas pano de fundo do enredo, mas conforme o texto ganhava corpo percebi que seu papel ia se mostrando muito mais importante na narrativa do que inferi equivocadamente nos primeiros capítulos.
A Menina Morta do título não ganha um nome no texto além desse, o que por si só já é muito estranho. E muitos dos personagens secundários também não são frequentemente citados pelo nome - alguns nem mesmo ganham um! E isso cria um clima funesto em toda narrativa. A própria família da menina parece toda um pouco meio morta também.
As personagens talvez mais importantes são as parentas/ primas que são abrigadas de favor na Casa Grande e ali se incorporam na rotina do Grotão de forma penosa é humilhante. Todas as mulheres da estória, aliás, ocupam um papel de destaque e deixam bastante claro, pra quem ainda tem dúvidas, de como era insuportável a vida de qualquer mulher no século XIX, independente da classe social, origem e idade. E é após a morte da menina que se torna ainda mais evidente a quantidade de conflitos que existem dentro dessa casa e isso se mostra, dentre outras situações, quando as mulheres se veem diante do dilema de terem que redescobrir a sua função na dinâmica familiar e no funcionamento das atividades domésticas que, sem a menina, se transformaram completamente.
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escrivadocaos 19/08/2023

Como ouvir o som da solidão?
Que tipo de gosto, sentimento, expressão poderia descrever a presença daquilo que ainda não vimos? Daquilo que não tocamos? Não experimentamos? Neste livro, a personalidade principal é a morte, a ausência e o sobrenatural.

Cornélio Penna chegou a minha vida através dos diários do meu autor favorito Lúcio Cardoso, e se a minha maior referência literária da vida estava me dizendo que o trabalho de Cornélio era bom, quem sou eu para discordar, certo? Lá fui eu comprar o livro.

A menina morta é uma construção estética de grande profundidade e é composta por uma complexidade sintática que só reflete a grandiosidade e a genialidade do autor. Nesta obra, temos a arte sendo expressa tematicamente incomoda mas com uma perfeita execução e com uma escrita realmente requintada e digna de admiração.

É honroso podermos, nos dias de hoje, deparar com verdadeiras obras literárias como esta. Recomendo fortemente a leitura, principalmente para os amantes de literatura brasileira com aspectos sombrios, psicológicos e subjetivos.
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kiki.marino 14/10/2024

Um funeral rural, como no titulo, uma estória de uma fazenda e sua gente, perdida no tempo,fim de uma era e suas dores invisíveis, enterrados em estruturas sociais de escravidão humana e doméstica, negros e mulheres. Homens inaptos para emoções. Um ritmo um tanto lento e pesar que pode não agradar leitores contemporâneos.
Uma desolação de guerra,porém sem luta.
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