Nicole 05/08/2014
As Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain.
Um dia eu terei que parar de suspirar quando se falar desse livro, mas no momento é um pouco complicado tanto que estou me desfazendo em elogios para tudo, absolutamente tudo dessa obra. Nunca um livro me surpreendeu tanto! É tudo tão impecavelmente mágico e com ares juvenis que a vontade de voltar a ser criança aflorou dentro de mim de forma incontestável. Agora estou nostálgica.
Mark Twain faz um trabalho maravilhoso instigando o leitor a se aventurar no universo infantil de Thomas Sawyer, um garotinho pimenta que mora em uma vila chamada São Petersburgo as margens do rio Mississipi ao termino do século XIX. Tom e seu irmão Sid moram com sua tia Polly e sua prima Mary desde o falecimento de seus pais. Sua pobre tia faz de tudo para domar o incontrolável menininho que falta a escola para ir pescar, odeia as aulas de religião, foge para viver suas proezas com seus amigos Huck Finn e Joe Harper e ainda arruma tempo para cortejar a nova garota dos arredores Becky Tatcher. E assim, metido em uma das costumeiras façanhas da vida cotidiana de garoto, ele e Huck acabam por ingressar na maior aventura de suas vidas: virarem testemunhas de um terrível assassinato.
De fato sempre achei as brincadeiras dos meninos bem mais legais que as das meninas e, depois de ver do que Tom Sawyer é capaz fiquei ainda mais convicta de que eu estava certa. Por favor, roubar barcos, fingir que é pirata, ir ao cemitério de madrugada e se imaginar como Robin Hood é bem mais legal que enfeitar bonecas. Honestamente fiquei com vontade de ser um garotinho e me misturar aos amigos de Tom para poder desbravar com ele todos os esconderijos da imaginação. A trama é narrada principalmente com o enfoque nele o que possibilita a todos perceber o quanto situações que para nós são mínimas se tornam enormes perante a perspectiva de um garoto que sofre bocados para galantear uma garotinha, que só quer trocar seus tesouros por outros e se tornar mais rico com um carrapato, cascas de laranja, ou o que for. Ele é o pestinha que todos conhecem por sempre andar sujo, levar broncas da tia e castigos na escola, mas a sua inocência é obvia em toda a história e me fez refletir como deve ser sido um livro prazeroso de ser escrito, mas também complexo por ter que saber metamorfosear em palavras a pureza de uma criança. E Twain é bem sucedido em sua tentativa, o universo de Sawyer é leve e extremamente habitável para aqueles que querem se divertir.
"A verdade é que não ando cumprindo o meu dever com este menino (…) Ele tem o demo no corpo, mas o que fazer? (…) Não tenho coragem de surrá-lo. Cada vez que o deixo escapar minha consciência dói; e se o agarro, o que dói é meu coração.”
"Um estante depois lá estava ele espinoteando como um índio selvagem, gritando, rindo, perseguindo os outros, jogando coisas, ficando de pés para o ar – fazendo todas as coisas heróicas que lhe vinham à cabeça, sempre com o olho alerta para ver se Becky Thatcher prestava atenção (…).”
Outro personagem que desperta afeições é Huckleberry Finn, uma garotinho que se veste como homem (até fuma!) e anda largado a própria sorte já que seu pai só vive bêbado e parece pouco se importar com ele. Todos os adultos da aldeia o temem e pensam que o coitadinho podem levar seus filhos para o mau caminhos, porém, o autor faz com que o personagem mostre seu valor com o desenrolar da trama e prove que o caráter nasce consigo independente de suas origens e sua forma de criação.
Depois da leitura desse livro o que penso tristemente é que não aproveitei a minha infância como deveria e que gostaria muito de ter sido apresentada a Mark Twain quando era mais nova. Ele teria me ensinado sem saber, intencionalmente ou não o que é ser criança. Como o próprio autor diz nas primeiras páginas do livro não é uma escrita somente infantil e hoje entendo isso. A história foi inspirada em suas próprias memórias.
Em pleno século XXI percebi que ver uma criança grudada a um celular ou um tablet como se fizesse parte do seu braço não é nada convencional e atualmente, quando noto uma cena dessas me surge o pensamento fúnebre de algo muito importante morrendo e a ideia de que elas estão deixando muito para trás.