Everton Gonçalves 04/06/2021
Esta obra é o segundo volume da Coleção de Shakespeare da Alta Cultura, que traz duas tragédias, com um breve ensaio e notas de comentadores e tradutores sobre ambas as tragédias.
Macbeth é a história de uma espécie de anti herói que “toma” o trono da Escócia. Ele é um herói de guerra que está voltando da guerra com seu amigo Banquo e se depara com “3 bruxas”, que profetizam referindo-se a ele como rei. Isso desperta nele o desejo e a ambição de ser rei, levando-o a refletir sobre o que fazer para tornar isso realidade o mais rápido possível. Lady Macbeth é uma esposa extremamente ambiciosa e para mim é a grande protagonista da peça. Ela trama e conduz tudo com maestria e inteligência, fazendo uma grande pressão psicológica nele para assassinar o Rei Duncan.
A história é extremamente sombria. Para manter seu poder, o novo rei e rainha entram numa bola de neve em meio a devaneios psicológicos, fruto da culpa e do peso de consciência, e também uma síndrome de perseguição, onde tudo e todos são vistos como inimigos e ameaças. A ambição os cegou e os destruiu pelo caminho, fazendo com que nunca alcancem a felicidade.
Temos uma fala icônica de Macbeth: “A vida é uma história, narrada por um idiota, cheia de barulho e fúria, não significando nada”.
Entre uma peça e outra esta edição temos um breve ensaio de Otto Maria Carpeaux: "As bruxas e o porteiro" p.169-174, que faz uma análise muito interessante de Macbeth.
Rei Lear
Uma tragédia espetacular e profunda. Está baseada em relatos e crônicas históricas. Um rei marcado pela insegurança quer testar os amor de suas filhas e dividir seu reino entre elas. Diante disso, duas filhas resolvem dizer o que o pai deseja ouvir, ao passo que a mais nova sendo sincera acaba desagradando o rei, seu pai, que a deserda num ato de fúria e loucura. O tempo mostrará o erro do rei em julgar pelas aparências. Cordélia é a filha mais nova e diz: "O tempo é que há de desvendar o que a hipocrisia discreta esconde; a vergonha vem por fim insultar com os seus erros aquele que os dissimula. (Cordélia p. 204)
A partir daí, todo tipo de oportunismo se levanta e começa um embate entre os leais e os aduladores. Tudo que se pode imaginar vai dar errado para ambos os lados, tudo se encaminha para dar um resultado positivo, e tudo termina muito mal para todos, como é típico nas tragédias.
Edmundo é um filho bastardo do Conde de Gloucester que representa esta busca gananciosa e desmedida pelo poder: “Se não for pelo meu nascimento que eu herde, as terras hão de ser minhas à custa da minha astúcia. Todos os meios são bons, contanto que eu alcance os fins”. (Edmundo p.214)
Rei Lear será totalmente insultado e desprezado pelas filhas que haviam feito todo um discurso de amor infinito a ele. Uma delas chega a dizer algo que é muito comum no pensamento atual do descarte para com os idosos: “Estes velhos tontos voltam a ser crianças e é necessário tratá-los com rigor, quando virmos que abusam da nossa brandura”. (Goneril p.215)"
Quando Rei Lear está na pior e cercado pela loucura ele afirma: "Que extraordinária arte que as nossas necessidades possuem! Transformam coisas insignificantes e sem valor em coisas preciosas! (Rei Lear p.275)"
Junto ao drama do Rei Lear, temos também o drama do conde de Gloucester enganado pelo filho bastardo, renega o filho legítimo Edgar, que será que irá ampará-lo quando traído, ficou cego num ato de tortura. Edgar que vivia como louco e mendigo o acolhe e o guia sem se identificar como seu filho, num gesto de gratuidade e bondade. Neste momento o conde cego, mas leal, nos abrilhanta a com a seguinte experssão: "É um tempo maldito aquele em que os cegos são guiados por doidos” (Gloucester p. 305).