Thomas.Jordao 23/01/2024
Se Deus não existe, tudo é permitido?
Foco no enredo e não nos personagens, como grande fã de autores que pregam isso, eu também. Porém é tudo que dostoievski não faz. Em seus livros o foco é extremamente nos personagens, à exaustão. Não gostei da minha primeira leitura, "o idiota", porém resolvi dar outra chance a esse renomado escritor. Com essa versão maravilhosa, embarquei nessa missão, do início ao fim, e posso dizer com certeza que não me arrependi. Ao contrário do outro livro, não achei esse um grande novelão, de quem fica com quem, como mencionei na outra resenha. Muito pelo contrário.
Estou no processo de alargamento de minhas ideias e gostos literários, procurando dar mais valor aos personagens e suas construções, e dostoievski sem dúvida me ajudou com esse livro. Após ler "5 personagens sem um autor", já considero que me livrei desse antigo preconceito, até porque um dos meus preferidos é "os miseráveis", no qual há um foco nos personagens, embora não como os irmãos Karamazov. Só para se ter noção, os miseráveis tem 1500 páginas, porém são muuuitos personagens, e muuuito enredo, enquanto que em Karamazov, são basicamente não mais que 8 personagens principais e secundários, e um enredo super simples que daria em 150 páginas, sendo que o livro tem 900-1000.
O que importa nas obras dele, o que não é super simples, é o personagem, sua psiquê, sua história, suas ações, seus pensamentos, suas filosofias de vida, sua ética. Com esse livro eu realmente gostei de entender os personagens, de os odiar, e surpreendentemente, de amar odiá-los. Pra não dizer que não amei ninguém, direi que ao Ivan, porém apenas ele, visto quão humanos são os personagens de dostoievski, logo, impossíveis de amar em sua totalidade. São riquíssimos, são surpreendentes, são caricatos às vezes, mas talvez nisso esteja toda a graça. As intermináveis páginas de pensamentos e filosofias dos personagens, os diálogos maravilhosos entre eles, e como tudo se conecta no final, é simplesmente majestoso. Um ótimo enredo, que se mistura com toda a história, conecta diversos pontos, e um final que era de se esperar, porém não do jeito que foi. E no fim, o julgamento me surpreendeu demais, visto que não esperava um embate entre advogados numa obra de dostoievski, e ainda por cima, simplesmente maravilhoso, me fazendo mudar de lado a cada discurso kkkkkk
Não posso deixar de esquecer de mencionar sobre o grande inquisidor, livro feito por Ivan Karamazov, que é simplesmente incrível, e sobre os grandes questionamentos da obra, como a do título. O homem quer ser governado? A religião dispensa a existência de Deus? Acredito em Deus, não acredito no mundo criado por ele, devolvo humildemente sua entrada? Deve-se amar os pais incondicionalmente? Amar o próximo faz parte do nosso código moral?
Existe lógica no amor?
Não passo de 4, pois infelizmente é uma leitura moderadamente pesada, acredito que devido a ser muito antiga, embora dê para se entender. Devido a faca de dois gumes que é esse estilo filósofico de escrita, já que alguns desses pensamentos que duram 10 páginas não "te pegam", e então você é obrigado a perder um tempo lendo algo que discorda completamente, ou simplesmente não entende, visto as diferenças históricas e culturais entre hoje e aquela época, e devido ao não conhecimento completo do imaginário russo. Algo que aliás é interessantíssimo de se entrar em contato, saber como era o pensamento do cidadão russo, sua moral e cultura. Me surpreendeu ver como que em não tanto tempo atrás, haviam pessoas que rejeitavam completamente a instituição medicina, e como ela era Fraca, se comparada a hoje em dia. Um livro maravilhoso, que sem dúvida lerei novamente alguns trechos. É uma pena e tristeza inacreditável ele não ter a continuação que dostoievski tanto queria, porém não teve tempo :(