Coruja 24/03/2012Acho que já contei essa anedota, mas vou relembrá-la assim mesmo... À época em que conheci essa coleção, ela ainda estava sendo publicada. Devo ter passado uns dois anos esperando até chegar ao final, numa época em que eu tinha de esperar até meu aniversário ou natal para ganhar livros, em vez de comprá-los na pré-venda em inglês com seis meses de antecedência, como faço hoje em dia (ai, meu deus...).
O caso é que dois anos e cinco livros depois, ao chegar ao final da história e da vida de Ramsés II numa existência admirável e repleta de reviravoltas tive uma crise de choro que chegou ao ponto de assustar minha mãe, que achou que eu estava passando mal.
A idéia da saga criada por Christian Jacq era mostrar Ramsés de adolescente, ainda bastante imaturo, dando os primeiros passos rumo ao trono que viria a ocupar por mais de sessenta anos um dos reinados mais longos da história dos faraós até a velhice quase tranqüila após uma vida inteira de batalhas, intrigas e traições.
Claro que Jacq romanceou bastante a vida de Ramsés... Independente disso, porém, ele conseguiu formar um risco e vasto painel social da época, nos levando dos canteiros de obras de inúmeros templos (e uma inteira cidade) até os rituais mais secretos, os Altos Mistérios conduzidos pelos sacerdotes para a continuidade do Império. Da intimidade da família real à casa dos pedreiros que ajudaram a erguer as magníficas obras que marcam o reinado de Ramsés, ele nos leva a conhecer um pouco de todos os estratos sociais.
Isso por si já valeria a leitura dos livros. Mas há muito mais... Há a amizade fiel dos companheiros de juventude Setaou, Ameni, Acha e Moisés, todos peças importantes no jogo para conservação do poder do futuro rei -, o romance com Nefertari, para quem ele construiu o templo de Abu Simbel; e as absolutamente fantásticas cenas de batalha com destaque para Kadesh, é claro.
Há intrigas pelo poder, tentativas de assassinato, revolução, religião e é interessante a forma como Moisés evolui até se transformar de melhor amigo do jovem Ramsés em seu inimigo mais acirrado por causa da heresia de Aquenáton há especulações que o culto a Áton teria sido a primeira religião monoteísta, base assim para a crença judaica.
É espantoso, a se considerar o tamanho da obra por baixo, deve dar umas duas mil e tantas páginas que ela não seja, nem de longe, cansativa ou repetitiva. Ramsés viveu a vida ao máximo ao menos no romance de Jacq intenso e passional em todos os momentos. Vale à pena conhecê-lo, viver a vida que ele viveu (ou poderia ter vivido) mais de três mil anos atrás uma época em que homens alcançavam a estatura de deuses e continuavam inteiramente humanos.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)