/QMD/ 19/06/2013
Henrique quer a visão de Lolita sobre isso tudo.
Lolita conta a história de Humbert Humbert, um homem com quase 40 anos que tem atração sexual por ninfetas (garotas que amadurecem o corpo, mas não na idade; meninas púberes; entre 8 a 14 anos). Desde um trauma que teve com sua primeira namorada, aos 13 anos, ele se satisfaz com pensamentos maliciosos com garotas bem mais novas que ele. Pedofilia. E Humbert não se sente menor que outros por causa disso, expondo claramente essa sua "opção sexual" desde o início, de um modo bastante franco.
Dolores, a chamada Lolita, é uma garotinha de 12 anos que desperta a atenção de Humbert logo que a conhece, na casa de Charlotte. Seguindo dicas de revistas para adolescentes, a garota percebe o comportamento do homem e começa a se insinuar para o pedófilo, que resolve se casar com a mãe dela para que eles não se afastem, alimentando suas vontades doentias.
Vladimir Nabokov criou um livro único. Lolita é instigante, sincero, pesado, polêmico. Pra começar, Humbert não esconde seu desejo por trás de máscaras ou traumas. Apesar de narrar quando seu desejo por garotas púberes começou, ele aceita a condição de pedófilo e, ao início do livro, até procura tratamento psicológico. Tudo fica ainda mais intenso assim que conhece Dolores, transformando o livro em algo parecido como um diário, onde o protagonista narra cada pensamento maldoso e cenas de cunho sexual que imagina.
Sendo categorizado como livro adulto, Lolita acaba vagando por vários outros estilos. Temos literatura erótica, suspense, drama, romance, aventura, novela policial... O autor consegue passear por cada uma das formas de narrativa com maestria, nos presenteando com um texto muitíssimo bem escrito. Apesar de todo o conteúdo sensual, não temos palavras de baixo calão ou uma escrita pobre. Lolita enche nossos olhos com uma trama quase poética, nada vulgar.
As descrições também são um ponto forte do autor. Cada objeto que é passado de frente a Humbert é descrito com palavras tão bem usadas que é fácil se deixar levar pela imaginação do autor, cheio de recursos da poesia, já que o protagonista é professor especializado neste estilo literário.
Precisa ter estômago para acompanhar o diário de Humbert Humbert. O pedófilo nos mostra todos os seus lados, sejam eles bonitos ou feios, simpáticos ou antipáticos. Somente aguentei o cara pelo livro inteiro porque, como já conhecia o final e os bons conceitos que o livro recebe, virava as páginas, mesmo que minha mente quisesse parar, abandonar a história.
Como tudo é muito bem planejado, o livro é bastante denso. São referências a outros livros, palavras anagramatizadas, nomes de personagens que se referem a outras histórias (reais e ficcionais)... Tudo contribui para que o talento de Vladimir Nabokov se torne visível, mas acaba transformando o texto em algo que merece muita paciência. Fora que alguns acontecimentos (principalmente em relação à mãe de Lolita) são um pouco surreais e se deparar com frases em francês no meio da obra pode até parecer uma boa sacada a princípio, mas cansa depois de certa parte do livro. Pecou pelo excesso.
RESENHA COMPLETA: http://www.quermedar.com/2013/06/lolita.html