Sidney.Prando 18/07/2021
Macunaima, o anti-herói brasileiro
Macunaíma, um anti-herói moderno.
O livro é o exemplo mais vivo do movimento literário Modernista de 1922, mais conhecida como “geração de 22”, e não é à toa que se tornou uma leitura indispensável. Sem mais delongas, vamos direto ao ponto.
Macunaíma, o nosso anti-herói, é filho de uma verdadeiro antropofagia, sendo a sua principal característica a personificação do povo brasileiro em si. Assim, Mario de Andrade da vida a um personagem feio, mentiroso e acima de tudo, preguiçoso. Essa série de “qualidades” é divertidíssima e dá a narrativa um tom cômico, sendo garantida várias risadas com as suas travessuras. Logo, Macunaíma não se mostra disposto aos afazeres sérios, como o trabalho, mas adora “brincar” com as jovens índias, dentre elas a mulher de seu irmão Jiguê (Parece que ser talarico é bem brasileiro né?). Além disso, ao longo do desenrolar dos fatos, em uma de suas recorrentes metamorfoses ele se transforma em um homem, que por sua fez o leva a “brincar” com a Ci, a Mãe do Mato. Nascido e em seguida falecido o filho de Macunaíma, Ci se encontra tão angustiada com a sua perda que sobe aos céus e se transforma em uma estrela cintilante, deixando ao seu amado uma pedra, o Muiraquitã. Porém, a pedra é logo roubada por um gigante, e então inicia-se a jornada do nosso herói e de seus dois irmãos para resgatar o Muiraquitã.
Para mim, foi difícil acabar de ler o livro sem se sentir no mínimo “mais brasileiro”. A rapsódia (um amalgamado de estilos e estudos folclóricos) abre as portas para a nossa imaginação fluir junto aos acontecimentos surrealistas que se sucedem, chegando a brincar com os acontecimentos e seus desfechos. Ademais, o autor captura a pluralidade ética e cultura de seu povo e a trás para a história, como as mudanças de cor dos personagens, sendo elas referentes aos principais povos do Brasil: o negro; o branco e o indígena. Mas não para por ai! A presença de animais, plantas, práticas e principalmente de mitos e contos de todos os cantos do país, surgem como elementos primordiais nessa aventura. Uma cena que retrata essa abordagem é a ida de Macunaíma para o Rio de Janeiro, onde o mesmo faz parte de uma sessão de macumba com a Tia Ciata. Personagens culturais, como Vei, A Deusa Sol, além dos monstros como Mianiquê-Tiebê e Ururau, são quase tão frequentes quanto as travessuras de Macunaíma. É tudo magico!
Uma cena que vale ser ressaltada é quando o nosso travesso personagem gasta todo o seu dinheiro com as prostitutas da cidade grande, o que o deixa sem alternativas que não seja redigir uma carta pedindo dinheiro para as suas Amazonas. Naquele instante, sua fala desleixada e coloquial torna-se impecavelmente formal, o que é uma clara crítica dos Modernistas ao puritanismo dos Parnasianos.
Em síntese, a obra é uma rica e imperdível referência a cultura brasileira em geral.
Os: vocês sabiam que o livro foi escrito em uma chácara em Araraquara?
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