spoiler visualizarRick Shandler 17/03/2024
Macunaíma - Mário de Andrade
Macunaíma é um pilar da cultura brasileira. O livro de Mário de Andrade tinha o objetivo, um tanto quanto pretensioso, de ajudar na construção de um imaginário brasileiro. Foi bem sucedido. Rapsódia, poema, romance, fábula, crítica ou piada. Macunaíma é nada disso. Macunaíma é tudo isso.
?Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são! ?
Esse é o diagnóstico de Macunaíma para nossa nação. Já fizeram algum mais preciso? Difícil. O herói sem caráter, em contraste com sua marcante preguiça, é um dos mais complexos e geniais personagens já criados. Não podia ser diferente, Macunaíma não é apenas um personagem, é um povo. Uma nação e todos os seus males.
Como criar esse personagem sem recorrer às nossas origens indígenas? O olhar sobre os povos originários não era novidade quando Mário de Andrade escreveu este livro. Só que Macunaíma está longe de tudo que havia sido escrito até então. Macunaíma é único, mas também múltiplo. Índio, mas também branco. Homem, mas também criança. Heroico, mas também preguiçoso. Por vezes gênio, por vezes esperto, por vezes malandro. Sempre brasileiro. Mário de Andrade faz um pirão de todos os ?brasis? e de tudo que constitui nossa brasilidade.
A epopeia tupiniquim do herói que vira estrela nos brinda com uma miscelânea folclórica. São histórias, lendas, costumes e comidas sem contar fauna e flora exuberantes. Ler Macunaíma é como admirar uma imensa colagem sobre o Brasil. É o nosso patrimônio cultural reunido, celebrado, mas também questionado. E tão vasto quanto o nosso patrimônio cultural é o próprio Macunaíma, e, por que não, o próprio brasileiro.
Macunaíma não é herói, nem vilão, mas sim uma representação da complexidade que é a nossa nação, nosso povo. Longe de certo ou errado, Macunaíma é o que há. Tem que ler.