Thay262 19/11/2023
Sonho Impossível - canção de Maria Bethânia, será pra sempre a minha trilha sonora desse livro!
Um livro de popularidade relativamente estável, embora tenha sido escrito há mais de 400 anos, tem um toque de apelo. A forma como o protagonista enlouquece depois de ler diversas histórias de cavalaria, com heróis de armaduras brilhantes, façanhas vertiginosas e nobres, jornada aventureira e uma dama a quem honrar, cativa os sentidos de Quixote e a força disso na cabeça dele enlouquece-o. E que leitor poderia julgá-lo? É muito compreensível, porque quem entre nós nunca quis fazer parte, nem que seja uma vez sequer, nem que seja em pensamento, de algum mundo maravilhoso sobre o qual já lemos? (Se algum dia houver leitor de fantasia que julgue Quixote, ele não passará de um hipócrita).
Dom Quixote, nada mais do que um completo louco, mas que sente que o mundo ainda precisa de um cavaleiro andante, e por mais que ele pareça ser uma completa desgraça neste papel por causa de sua condição mental perturbada, o homem ainda quer reparar insultos, corrigir erros, corrigir as injustiças do mundo. Ele é, em resumo, um sonhador louco.
Deixava-me triste ver esse bobo sendo enganado por onde passava, ver o louco sonhador humilhado e enganado por “gente sã”, e ao mesmo tempo, a trama consegue zombar tanto das estórias de Cavaleiros, zomba do devaneio heroico fantasioso que há nessas histórias, tanto quanto consegue zombar da realidade em que vivemos, que é tão mesquinha, feia, injusta, maliciosa e chata. É verdade que o Cavaleiro da Triste Figura cria muitos percalços e infortúnios para si mesmo; há caos por onde passa, mas ele é o chamado louco, enquanto as pessoas ditas “sãs” são capazes de coisas abusivas.
A fuga da realidade que Quixote vivencia, por mais louca que seja, acaba por trazer à tona o que há de melhor nele; coragem, determinação, senso de propósito, desejo de fazer a diferença no mundo, realizar feitos impossíveis, ser útil, encontrar o amor, mostrar senso de honra em servir e ajudar a comunidade ao seu redor (ou tentar, pelo menos), sobre valores e virtudes que não são mais vistas no mundo. E embora me entristeça vê-lo como um louco criando problemas e se machucando, também faz a realidade parecer tão monótona, tão imoral, tão egoísta, horrível e mesquinha. O livro nos faz acreditar: “ele é maluco”, mas quem disse que essa realidade que criamos para nós mesmos e chamamos de “vida real” também não é? Se a nossa realidade não é louca, é no mínimo apática e insensível.
E todo o desespero que havia em mim para saber quem sairá vencedor: Quixote ou o mundo? “A imaginação completamente maluca de um visionário” versus “o frívolo e apático mundo”?
Por outro lado, Sancho Pança foi uma adição interessante à narrativa, para mim ele é um louco tanto quanto seu senhor (só é um pouco mais sensato), acho que não teria continuado a leitura se não fosse por ele.
No final das contas, ao ler, fiquei entre me juntar a loucura de Quixote e curtir a aventura da maneira como ele a via, pela perspectiva dele, já noutras vezes vê-lo só como um louco que se colocava em situações doentias (o que me angustiava, preocupava-me com ele e os outros a volta dele). E Sancho parece perdido nesse mesmo dilema, dar asas a imaginação de seu senhor ou tentar enganá-lo para que ele tenha um pouco de lucidez, então isso traz um certo grau de identificação. Ver Quixote sempre se lascando me incomodava, eu não achava graça nenhuma, então o fato dele ter um amigo para ajudá-lo amenizava minha lástima por ele.
PONTOS NEGATIVOS: a linguagem às vezes é muito rebuscada e há trechos monótonos que parecem repetitivos, dando a impressão de que o livro poderia ser mais enxuto, cansei algumas VARIAS vezes, mas oque me impedia de abandonar o livro era pensar “preciso saber oque vai acontecer com esses dois lunáticos”, e só isso. Talvez eu ainda não tivesse na hora de ler esse clássico, ou talvez eu tenha esperado demais dele, criado muitas espectátivas.
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