Tiago978 09/10/2024
Um clássico.
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, acompanha Alonso Quijano, um fidalgo de meia-idade que, após ler muitos romances de cavalaria, decide se tornar cavaleiro andante sob o nome de Dom Quixote. Sua missão de lutar por justiça é moldada por uma visão distorcida da realidade, resultando em aventuras absurdas, como a famosa batalha contra moinhos de vento que ele acredita serem gigantes.
A obra é marcada pela complexidade de seus personagens. Dom Quixote, com sua mistura de idealismo e loucura, e Sancho Pança, seu escudeiro realista, formam uma dupla fascinante, onde o contraste entre o sonhador e o pragmático provoca tanto riso quanto reflexão. Esse contraste questiona os limites entre a sanidade e a loucura, e o impacto das fantasias que moldam nossa percepção do mundo.
Embora o humor esteja presente, Dom Quixote oferece uma meditação profunda sobre a realidade e a ficção. Cervantes desafia o leitor a refletir sobre o poder das histórias e a maneira como elas moldam nossa compreensão do mundo. A obra satiriza os romances de cavalaria, mas também revela uma melancolia subjacente: o protagonista luta por um mundo idealizado que não existe mais, trazendo uma dimensão trágica às suas ações.
Dom Quixote pode ser visto como um eterno sonhador, vivendo em um mundo idealizado regido pelos códigos da cavalaria, mesmo quando todos ao seu redor enxergam a realidade de forma completamente diferente. Ele se recusa a aceitar a realidade crua e insiste em transformar o comum em épico, buscando incessantemente grandeza e heroísmo, mesmo que isso o leve a situações ridículas ou perigosas. Essa perseverança em lutar contra gigantes imaginários e resgatar donzelas inexistentes faz dele um símbolo da capacidade de sonhar sem restrições, mas também de sua tragédia: seus sonhos, embora nobres, são constantemente confrontados com uma realidade que não se encaixa em seus ideais.
Apesar de ser um sonhador, Dom Quixote também pode ser considerado um lunático. Ele perdeu o contato com a realidade ao se deixar consumir pelos romances de cavalaria, acreditando firmemente que é um cavaleiro destinado a grandes feitos. Suas percepções distorcidas fazem com que enxergue gigantes onde há moinhos e castelos onde existem simples estalagens. No entanto, sua "loucura" é mais do que um distúrbio mental; é uma escolha consciente de viver em um universo paralelo, sustentado pelos valores da cavalaria que ele tanto admira.
Sua loucura, ao mesmo tempo, funciona como uma crítica à sociedade de sua época, que ele vê como corrompida e sem ideais. Dessa forma, Dom Quixote não é apenas um lunático perdido em suas ilusões, mas alguém que luta desesperadamente para dar sentido a uma vida que ele considera banal e desencantada.