Kath 10/10/2015
Clássico, inocente e inesquecível!
Eu tinha muita curiosidade em ler esse livro, comprei por nove reais uma edição de capa dura da Abril Cultural traduzida por Orígenes Lessa, na Estante Virtual. O enredo gira em torno de Alfonso Quixano, um fidalgo que, após ler muitos romances de cavalaria (livros próprios da era medieval, no período romântico) decide tornar-se um cavaleiro, tomado totalmente pela loucura. Assim, com sua imaginação muito fértil, parte pelo mundo acompanhado de um camponês chamado Sancho Pança e se mete em mais confusões do que consegue lidar, deixando, na maior parte do tempo, os problemas para o pobre camponês lidar. A famosa cena maluca dos moinhos de vento que ele enxerga como gigantes a serem combatidos é mais breve do que eu esperava, mas, ainda assim, hilária. O que toca em Dom Quixote é a loucura "boa" dele, de um jeito inocente, que a maioria de nós também tem um pouco quando lê um livro muito bem **Sou um bom exemplo disso me desenhando inteira com tinta nankin e caneta permanente depois de ler Os Instrumentos Mortais.** assim, ele sai pelas cidadelas da Espanha destruindo a impunidade e levando a justiça, confundindo estalagens com castelos, acreditando em feiticeiros e sempre apaixonado pela sua Dulcinéia de Toboso como todo bom cavaleiro andante dos romances medievais. O legal desse livro, além das desventuras hilárias da loucura do fidalgo - que na maioria das vezes sobra pro "escudeiro" - é que Sancho acaba, de certa forma, ficando contagiado pela maluquice do amo, assim como todas as pessoas que mesmo se divertindo às custas dele, o que eu achei em parte cruel, mas que ele era inocente demais pra perceber, de certo ponto o deixavam feliz, por ser reconhecido, por ser tratado à altura do que ele achava merecer. Tanto é que, em uma das passagens próximo ao fim do livro, quando o fidalgo, por motivos de saúde precisa abandonar sua vida de cavaleiro, um dos seus "espectadores" fala:
"- Vai ser difícil - afirmou Dom Antônio. - E seria pena... Vós tentais roubar do mundo um dos seus melhores loucos, o doido mais perfeito e divertido da terra. Sua loucura é inofensiva é o melhor tratamento contra a melancolia e as tristezas da vida." Página 180
E de fato o é. Por onde quer que passe o fidalgo, com sua imaginação mais que fértil e sua fala rebuscada, leva riso - ainda que ridículo - e distração para as pessoas e é isso que faz com que Quixote seja tão amado e apaixonante, é uma história que foi pensada como uma sátira à ficção de entretenimento de sua época, mas que acabou criando um personagem inocente, fofo e cheio de uma imaginação infantil que reina e faz com que todo leitor se identifique, afinal, todos nós adquirimos um pouco mais de loucura no nosso mundo desajustado a cada livro lido. E, além de tudo, é sábio ao seu modo, uma das passagens que mais gostei foi:
"- Como vês, meu Sancho, apesar de rústico, dão-te uma ilha a governar. Mérito teu? Sabes que não. Apenas pelo fato de acompanhares um cavaleiro andante. Falo-te com essa franqueza para que agradeças a Deus o privilégio, e à grandeza da cavalaria andante, que te deu prestígio. Ouve agora os meus conselhos para bem governares. Teme a Deus. É o princípio da sabedoria. Conhece-te a ti mesmo. É o que somente os sábios conseguem. Não te envergonhes de dizer que foste um camponês, porque, se o negares, outros te lançarão em rosto essa verdade. Se a tua mulher vier ao teu encontro, ensina-lhe boas maneiras. Se ficares viúvo, muito cuidado na escolha de uma nova mulher. Ela poderá vir por interesse, porque serás governador. Dá mais importância às lágrimas dos pobres que à riqueza dos nobres. E, ao fazer justiça, procura ser antes compreensivo que rigoroso." Página 157/158.
Como não amar Quixote? Faz juiz a ser um dos livros mais vendidos e lidos do mundo! Se você ainda não conhece, não perca tempo!
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