mi.ria__ 19/10/2024
Uma emoção além das barreiras do tempo
A Viajante do Tempo é o primeiro livro da série de nove volumes de romances históricos, Outlander. Rendeu uma adaptação da Starz em 2014, além de spin offs literários com a história de amor impossível (e por vezes, nada saudável) entre uma enfermeira da Segunda Guerra Mundial e um guerreiro escocês do século XVIII. E também não é pra menos.
A jornada da protagonista Claire Elizabeth Randall, uma enfermeira veterana na Segunda Guerra Mundial, que no meio da sua viagem para comemorar sua lua de mel com destino as Terras Altas, acaba sendo transportada para à Escócia do século XVIII, é fascinante.
"Pessoas desaparecem o tempo todo. Pergunte a qualquer policial. Melhor ainda, pergunte a um jornalista. Os desaparecimentos fazem parte do dia a dia deles. Adolescentes fogem de casa. Crianças desgarram-se dos pais e nunca mais são vistas. Donas de casa chegam ao limite da paciência, pegam o dinheiro das compras e um táxi para a estação de trem. Banqueiros internacionais mudam de nome e desaparecem na fumaça de seus charutos importados. Muitos dos desaparecidos serão encontrados, por fim, vivos ou mortos. Afinal, os desaparecimentos têm explicação. Quase sempre."
A escrita da Diana Gabaldon, é profunda. Os capítulos longos, de descrições detalhadas sobre os costumes e tradições do período da revolução jacobita, com direito a muitas descrições de fatos e eventos históricos. Ela quer que de fato o leitor se afogue nas paisagens escocesas. Claire é uma protagonista quase tão misteriosa quanto às razões para o destino a escolher para ser uma viajante do tempo em uma época tão sangrenta sem maiores explicações. É quase como se Claire fosse a metade de um espelho de Jamie Fraser, o guerreiro escocês.
"A vida se torna muito simples a essa altura; você fará o que está tentando fazer ou morrerá na tentativa e, na verdade, não importa muito o desfecho."
Aliás, de sangue e violência física, no geral é o que esse livro mais tem com descrições gráficas, não tornando essa trama para todo mundo. Jamie e Claire passam por poucas e boas ao longo desse primeiro volume, principalmente com a presença do sádico Black Jack Randall (antepassado do marido do século XX de Claire, que apenas na aparência é a imagem e semelhança do homem que deixou pra trás). Claro, a autora se permitiu a tomar pequenas liberdades criativas para acrescentar mais à trama, como a queima de bruxas.
"? Você me perguntou, capitão, se eu era uma bruxa ? falei, a voz baixa e firme. ? Vou responder-lhe agora. Sim, eu sou uma bruxa. E lanço sobre você a minha maldição. Você se casará, capitão, e sua esposa terá um filho, mas não viverá o suficiente para ver o seu primogênito. Eu o amaldiçoo com o conhecimento, Jack Randall. Eu lhe dou a hora de sua morte."
A coisa que me incomodou de verdade ao ponto de tirar uma estrela da nota final do livro, foi a decisão de como abordar o TEPT do Jaime depois de ser vítima de abuso na cadeia, que foi resolvido quase de maneira milagrosa. Corajoso colocar essa temática, se levarmos em consideração o ano de publicação do livro? Sim! Mas a solução foi porca.
"Sabia apenas que aquilo que eu guardava nas mãos era a alma de um ser humano; a minha própria alma ou a de outra pessoa, isso eu não sabia."
Com uma emoção além das barreiras do tempo, esse primeiro volume me cativou.