CinMeireles 04/05/2024
Enquanto relia, meu único pensamento era "eu não lembrava de isso ser tão bizarro quando li na adolescência".
Vamos lá. Noite na Taverna é um graaande clássico do ultra romantismo brasileiro, e não é à toa. Apesar da linguagem cheia das frescuras típica do período, a história é tão boa que é capaz de agradar mesmo os leitores que enfrentem alguma dificuldade com o vocabulário. Nosso menino Álvares (Maneco para os íntimos) podia ser surtado das ideias, mas era um gênio literário.
MAS.
Como eu disse lá em cima, bizarrices permeiam toda a obra. Com um estilo de terror gótico que tem vários paralelos com autores como Edgar Allan Poe, não há limites para o macabro e o imoral na obra de Álvares de Azevedo; e, diferente de outros autores do período, não há hesitação alguma do autor em usar de descrições bem diretas para falar das imoralidades de seus personagens. Temos aqui situações de estupro, assassinato, sequestro, roubo, vício e outras mais que, embora reconhecidas como criminosas e repugnantes por seus autores, são ao mesmo tempo celebradas, em uma bizarra disputa de quem é o mais degenerado.
Não é uma leitura fácil. Na era em que vivemos, em que tais coisas são vistas como inaceitáveis (AINDA BEM NÉ), é preciso ter estômago para ler certas descrições. Na minha época de adolescente (e envelheci 50 anos só com essa frase) não lembro de ter grandes incômodos lendo isso; me pergunto se era por não ter a real noção do que significavam essas coisas, ou se porque os anos 2000 eram estranhos mesmo. Me pergunto também como seria a reação de um adolescente de hoje lendo esse tipo de obra. Me pergunto mais ainda como seria a reação dos pais do adolescente ao saber que o filho leu esse tipo de obra.
Se recomendo? Hummm. Depende. É um livro ótimo, eu gosto da história, e tem uma importância histórico-literária inegável. Mas se você não aguenta uma história pesada e sem finais felizes, não chegue nem perto.