Ana Eliza 01/02/2023
Não é à toa que contribuiu para a área da psicologia
(postando a resenha de novo, pois tinha selecionado o livro errado)
Simplesmente entrou pros meus favoritos. Dá pra extrair tanta coisa daqui, olhar por tantas lentes, há tantos detalhes? Isso que é uma boa literatura. Eu já sabia o que ia acontecer, já sabia o final, mas não sabia como e me deleitei bastante ao acompanhar essa narrativa bastante profunda, embora a linguagem seja um pouco difícil.
Eu na verdade iniciei a leitura com certos preconceitos? Pensei que a história se resumiria meramente a uma protagonista iludida, mas há tantas camadas? É possível entender e ter empatia por Emma, ela é uma personagem ambiciosa, não se contenta com o comum, tem a mente curiosa e está sempre em busca de coisas novas. Tudo isso em contraste com o marido, que é uma pessoa acomodada, sem muitas ambições, não se interessa por arte, música, literatura, atividades/conteúdos intelectuais, aprender coisas novas, viajar? Desde sua infância percebemos que o personagem não toma atitude se não tiver um empurrão de terceiros, tampouco tem opinião própria. Tédio é o que resume ele e seu casamento com Emma. Tendo isso em vista, a conduta intensa de Emma, realçada pelas leituras de romances, não é necessariamente ruim. O problema é o excesso de suas fantasias e desejos, que fazia mal para ela mesma, e o egoísmo. Então, por outro lado, enquanto Emma demonstra uma constante insatisfação perante a vida, Charles Bovary pelo menos se mostra feliz em sua simplicidade.
Algo interessante de se observar é a condição da mulher da época de precisar se casar para ser alguém na vida e consequentemente, depender financeiramente do marido. Podemos ver pelo próprio título do livro que a protagonista não é dona nem da própria história. Bovary não é o nome dela, é o nome do marido, mas é como ela é identificada, mesmo não se identificando com ele. Fico pensando que na sociedade atual, por exemplo, Emma teria ao menos mais liberdade e independência para ir atrás de suas fantasias e lidar com as consequências sozinha (o que de certa forma acontece, mas bom... Não quero falar demais e dar algum spoiler importante). Ainda falando da personagem, é legal ver uma protagonista feminina equiparável a Dom Quixote.
Um personagem secundário que me chama muita atenção é o Sr Homais, farmacêutico e vizinho dos Bovary. Ele é o próprio produto da época ?realista? e, com a exaltação da ciência o tempo todo e a qualquer custo, se mostra caricato e de índole duvidosa. Acompanhamos o declínio de Emma, iludida com o romantismo, e a ascensão de Homais, a representação da nova época, sendo que ambos personagens são parecidos em seu egocentrismo.
Enfim, esse livro pra mim é muito mais do que uma crítica ao movimento romântico.