Aline Guedes 15/10/2023A Ema é insuportável!Mas a história vai além disso. Tanto Charles quanto Ema vivem uma vida que não escolheram, e colocam no outro a expectativa da sua própria felicidade. Charles acha que a encontra ao casar-se com Ema, mas será que ele realmente era feliz?
E Ema é a eterna insatisfeita, entediada com a própria vida, sem perspectiva, sem objetivos próprios pelos quais viver. Então usa as histórias que leu como ideal, o romance avassalador que vai tornar a vida dela incrível. Mas a vida não é assim, e ao não encontrar um amor de contos de fadas, a realidade mostra uma versão de Ema dependente desses momentos de paixão, se tornando dramática e tóxica conforme o tempo passa.
Contudo, como julgar uma mulher de classe média que vivia na área rural (posso chamar assim?) da França do século XIX? Onde trabalhar ou estudar não era opção. Ema não era nem rica para esbanjar seus gastos, nem pobre para ser obrigada a servir aos outros. Vivia no limbo, sem ocupação e sem encontrar satisfação em nenhuma atividade que seria apropriada a uma mulher de família. Encontrou homens dispostos a abusar de suas carências e seus vícios em gastos extravagantes. O quanto esse cenário afeta a personalidade de Ema importa, porém, não muda o fato de que ela me irritou o livro inteiro, foi impossível não me sentir assim.
Homais é o personagem que mais me chamou atenção, nas suas discussões sobre religião, filosofia, suas ambições, métodos questionáveis de cura, e infelizmente, ele não teve o fim que eu gostaria (torci pro cego ganhar aquela batalha).
Valeu a leitura, mas certas cenas foram cansativas pelo estilo da escrita.