Elias Flamel 11/02/2024
Sabe o que faz
Há momentos dentro de uma história que o autor mostra que entende o que está fazendo. Masashi Kishimoto fez uma obra ao melhor estilo shonen jump, mas colocou elementos únicos para que ela se diferenciasse dos clássicos anteriores (Dragon Ball, Yuyu Hakusho, Hunter X Hunter e etc). Pensar em cada um desses elementos daria vários posts enormes. Serei breve e cito um dos mais latentes: o do menino com um demônio dentro de si, abandonado e rejeitado por todos (ótimo contexto para virar vilão) e deseja reconhecimento através do heroísmo. Mas e se Naruto fosse um Shonem o mais clássico possível? Então seria protagonizado pelo Rock Lee.
Superação, o objetivo que parece inalcançável e o sentir-se menor do que os outros. Temas que se conectam com a juventude tão cheia de dúvidas, a procura de uma identidade e com energia sobrando. O ninja, que tem consigo apenas o Taijutsu, percorre um caminho onde encontra diversos rivais. Faz o que faz para provar que existe outra maneira de ser diferente, um modo novo de viver longe do padrão. Trata-se da rebeldia, da vontade de ser aceito pela sociedade ninja. O Naruto possui a mesma construção? Sim, mas o Rock Lee não é aceito por ser diferente. Naruto é rejeitado por ser perigoso.
Em pouco tempo Naruto mostra que não é uma ameaça. Porém, Rock Lee sempre será diferente, a suposta falha nasceu dentro de si. Já neste ponto da história afirmo: o aprendiz de Gai me marcou e me marcará mais que qualquer outro, independente dos rumos do mangá.
Todo o arco de Rock Lee é uma excelente construção e o personagem contrasta bem com seu adversário. Ele é expansivo, tem dificuldade em se conter, desafia quem quer desafiar, se declara para a Sakura, admira os rivais dele, corre, se movimenta e visualmente chama atenção para si. Gaara se contrai, o poder está na defesa e no envolver, só demonstra atenção no Sasuke que possui o mesmo olhar de ódio, repete as mesmas frases (mente fechada) e exige silêncio dos companheiros. Os dois se chocam, há o testar limites por parte do mais fraco, a transformação e o drama. Para encerrar, o autor sabe que não tem o protagonista em mãos e arrisca, entregando o dramático, o diferente, algo além do final feliz. Como plano de fundo a genialidade versus o trabalho duro. Temas fortes nestes primeiros volumes.
Tudo isso bem feito em um único volume. É uma aula sobre a fórmula Shonen Jump, é uma aprendizado sobre como lutas devem ter peso e ser um choque de ideias.