Jeff_Rodrigo 15/08/2024
Em "Náufragos, Traficantes e Degredados", Eduardo Bueno nos conta algumas das absurdas histórias dos primeiros a aportarem no litoral brasileiro, descrevendo a sorte e o azar de figuras emblemáticas para a nossa história.
Para isso, o autor começa analisando o contexto geopolítico da época, nos apresentando como a corrida pela dominação das Américas entre Portugal e Espanha se intensificou, especialmente depois da constatação da existência de grandes reservas de ouro e prata no Império Inca. Nos explica como o cone sul do continente americano se tornou palco de investidas bélicas por dominação de rotas e entrepostos de escoamento de metais preciosos.
Em seguida, vai nos familiarizando com as estratégias de dominação do Império Português, caracterizada pela implementação de fortificações, povoados, missões e vilas ao longo de pontos considerados fundamentais para o controle e dominação do território e das rotas náuticas. Nos explica que as estratégias eram variadas, consistindo, inclusive, com o povoamento voluntário, ou compulsório, de marinheiros, soldados, civis e de toda sorte de indivíduos condenados pela Coroa, designados com a missão de estabelecer a expansão e controle do novo território português.
Assim, vemos histórias de marinheiros que desertaram para conviverem em liberdade com os Índios. Relatos de náufragos dados como mortos, mas que conseguiram não só sobreviver, como também estabelecer relações com povos locais. Casos de pirataria e saques desenfreados ao longo da costa sudeste do continente. Viagens que culminaram em naufrágio devido às más condições do tempo e ao desconhecimento completo do território. De tentativas de subir a Bacia do Paraguai em meio aos ataques de tribos indígenas. De missões jesuítas que deram muito errado. Enfim, uma sequência de casos, ora trágicos, noutra sortudos.
Achei muito interessante como nesse trabalho o autor descreve o período compreendido entre 1500 e 1550, vulgarmente conhecido como o hiato da colonização portuguesa no Brasil. Como as figuras de João Ramalho, do Bacharel de Cananéia, de Felipe Camarão, Diego Garcia, dentre outros, foram fundamentais para o estabelecimento de rotas e dominações territoriais fundamentais ao longo do litoral brasileiro. Notório também é o relato da lendária estrada indígena do Peabiru, (que supostamente ia do litoral brasileiro até Cusco), e que alimentou ainda mais a sanha dos portugueses de controlar o território.
É um livro interessante, gostoso de ler. No entanto, aconselho o leitor a apreciá-lo com um mapa, para ter uma ideia da dimensão, dificuldade e perigo da empreitada.