Giulipédia 25/10/2020
Você sabe amar, ou apenas ser amado?
O livro conta a história da jovem Jane Eyre, uma órfã de família, adotada pela família do tio materno, os Reed. Seu tio no leito de morte fez a esposa prometer que não abandonaria a pobre criança a própria sorte e com isso a menina Eyre teve seu destino selado. Foi criada em seus primeiros dez anos em um lar extremamente hostil, onde por mais que se esforçasse e tentasse ser boa, era constantemente repreendida e castigada. Sua tia, Sra. Reed, sempre deixou muito bem claro a que lugar a menina Jane pertencia e não era no seio da família. Devido a criação brutal ela era constantemente deixada sozinha e acabou se abrigando em meio aos livros, graças a estes, Jane conseguiu desenvolver um intelecto crítico e por isso sabia que recebia um tratamento extremamente injusto por parte da família. Tempos depois foi enviada para um internato, Lowood, onde sofreu muitas privações físicas devido as condições insalubres do lugar em seus primeiros anos como interna, mas longe de se encontrar em um lugar hostil de companhias, Jane se fortaleceu e se desenvolveu, agora encontra-se pronta para desbravar o mundo e buscar sua independência, e o primeiro lugar onde vai ser empregada é em Thornfield, como governanta e professora da pequena Àdele.
Antes de mais nada, para mim, Jane Eyre é um livro de sobrevivência. Sobreviver a uma vida de constantes maus tratos, incompreensão, falta de afeto, carinho, amor e principalmente viver sempre sob o cobertor da injustiça! A vida de Jane desde o início é uma batalha, uma guerra tanto externa, quanto interna. Externa é bem óbvio, mas por que interna? Bom, se você vive em um lugar onde constantemente é julgado como errado, apesar de tentar se comportar da melhor maneira possível, uma hora você acaba duvidando de si mesmo, não é? E por isso que notamos um contraste enorme no desenvolvimento da própria Jane quando vai para a escola, seu intelecto se desenvolve, seus comportamentos são moderados e suas ideias são esclarecidas, porque apesar de se encontrar em um ambiente insalubre, agora mais do que nunca, ela encontra compreensão e aceitação e com isso consegue se desenvolver como ser humano independente.
E aqui eu já queria trazer outro ponto que me fez refletir muito. Lendo o livro reparei muito em como pessoas medíocre se acham as melhores, pessoas vazias se acham o exemplo de bondade, nunca estão erradas, sempre julgam, nunca são julgadas. Nesse livro temos uma visão bem privilegiada do "cidadão de bem" e o que acontece com esse tipo de gente quando realmente se depara com uma pessoa de caráter. Por que tentavam tanto diminuir a pobre Jane? Por que ela era acusada tão injustamente, por mais que se esforçasse em tentar alcançar o padrão de menina obediente e dócil? Pela minha própria reflexão, pessoas como a Jane são odiadas apenas por ser aquilo que são naturalmente, por mostrar para essas pessoas medíocres tudo aquilo que elas não são e não tem, um bom coração, compaixão, empatia e acima de tudo a capacidade de amar. Porque na verdade é isso não é? Todos queremos ser amados, mas quem é realmente capaz de amar? Por que eu penso que se sou capaz de amar, também sou capaz de saber quem é digno do meu amor, e sei que não é qualquer um. Penso que amor não é passar pano pra tudo que uma pessoa faz, amor é correção também, é olhar os defeitos e mostrar o certo e o errado, esse livro mostra muito o que o "amor" desenfreado sem limites apodrece uma pessoa, tornando-a arrogante, mesquinha e egoísta, há dois grandes exemplos aqui, desafio aqueles que leram e os que vão ler a descobrir quais personagens estou citando! rs
Mas uma coisa muito presente junto a tudo isso é a presença brutal do relacionamento abusivo que se encontra presente em muitas cenas. A busca constante em satisfazer o outro lado, se doando para o outro, se negando pequenos prazeres em prol do agrado do outro, e nesse meio, perdendo sua própria essência. Foi doloroso ler isso, muitas cenas me levaram as lágrimas, a indignação e principalmente a tristeza, pois apesar da história ter séculos de diferença vemos que essas situações ainda são muito presentes no nosso tempo atual, vemos o porque de Jane Eyre ser considerado um romance atemporal.
Mas longe de se desesperar, é tempo de se espelhar em Jane, de se escolher, ser capaz de primeiramente amar e não ser amado, porque como havia dito antes, pessoas que sabem amar sabem quem será digna do amor delas. Nossa jovem inglesa nos prova isso, quando luta pela sua independência, por fazer aquilo que almeja que traz paz para seu coração, apesar de todos os julgamentos alheios, Jane segue sua consciência, pois esta se encontrar limpa e tranquila, e é o seu maior guia, ela não aceita menos do que acha que merece, não se deixa ser podada ou diminuída por ninguém e acho que essa é a maior lição que esse livro nos traz!
Essa história aborda tantos assuntos que me dariam facilmente umas vinte resenhas, mas já me demorei demais, para aqueles que me acompanharam até aqui, os convido a ler e conhecer a história de Jane Eyre, tirem suas próprias conclusões, reflitam sobre o que Charlotte Brontë quis passar quando, tão corajosamente, escreveu essa obra grandiosa e revolucionária, recomendo a leitura a todos, mais uma vez a literatura educando e salvando vidas!