Thiago 03/04/2023
A grande aventura marítima que "achou" o Brasil e nós não sabíamos.
Esqueça tudo que aprendeu sobre o Descobrimento do Brasil ao ler o primeiro volume da Coleção Brasilis de Eduardo Bueno. Na verdade, talvez seja melhor dizer que você descobrirá que aprendeu bem pouco sobre o “achamento” da Terra de Vera Cruz, ou todos os outros nomes que este solo receberá até se consagrar como, apenas, Brasil.
Neste volume inicial somos apresentados não somente à expedição de Pedro Alvares Cabral que, por acidente ou não, oficializa a colônia portuguesa no Novo Mundo. Mas também todo o contexto histórico que levou Portugal ao período das grandes navegações e seus principais personagens. É aqui que reside a maior riqueza do livro ao apresentar um quadro histórico repleto de desencontros, coincidências e interesses que poderiam colocar qualquer ficção marítima em segundo plano se comparada à realidade.
Nomes como Vasco da Gama, Américo Vespúcio e Cristóvão Colombo ganharão vida como nunca antes fizeram ao leitor casual que não saibam de suas biografias. Até mesmo nomes conhecidos como Pero Vaz de Caminha e demais personagens da expedição cabralina receberão uma profundidade maior daquela que vemos no ensino tradicional da nossa História. E, claro, sem deixar de lado as maquinações e feitos (grandes ou pequenos) da nobreza como D. Manoel, Afonso V, Maria de Aragão e Castela e, principalmente, o Infante D. Henrique, grande patrono das luso-navegações.
Importantíssima é também a cronologia de como todo o processo do primeiro contato com os indígenas se deu por parte dos portugueses. Qual o papel de destaque por parte de cada membro da tripulação. Como a igreja teve forte papel simbólico e ativo na apresentação com os nativos. Quem foram os primeiros degredados deixados por aqui na intenção de aprender mais sobre o território. E também o depois, pois a história sempre será o antes e o depois, de Pedro Alvares Cabral e seus comandados.
O livro tem um papel fundamental em mostrar a inocência dos indígenas Tupiniquins que, sem saber da sua extinção como povo, recebem e apoiam seus futuros algozes. Interessante também a noção de como a Europa enxergava o potencial, ou a falta dele, na descoberta dessas novas terras ao oeste. Em um período onde guerras fronteiriças e por especiarias ainda eram muito comuns, pouco importava um novo continente repleto de papagaios, mata densa e nativos nus “sem nada a cobrir-lhes a vergonha”. Como sabemos essa visão mudaria em algum tempo.
A recomendação é de que leiam esse primeiro tomo da Coleção Brasilis de Eduardo Bueno não apenas como um livro de História. Mas também como a narrativa de uma grande aventura de navegantes que cruzaram o imenso e assustador Atlântico em suas naus e caravelas na busca do que não se sabia mas que todos desejavam.