Rascunho com Café 03/05/2017
...e assim começou nossa história
A Coleção Brasilis foi um grande sucesso editorial do final dos anos 1990, que nos apresentou a História do nosso país com um estilo leve, crítico e divertido e que está sendo relançado agora pela Editora Sextante através do Selo Estação Brasil. O livro “A Viagem do Descobrimento Um olhar sobre a expedição de Cabral” é o ponto de partida dessa maravilhosa coleção, e posso dizer que começa a obra com chave de ouro.
É uma pena que as aulas de História nas escolas brasileiras sejam tão corridas, com poucas horas por semana e muitas atividades extraclasse, geralmente os professores não dispõem de tempo de aprofundar nos conteúdos e uma disciplina muito interessante acaba se transformando em um amontoado de datas, eventos e personagens que são jogados ao aluno, que acaba tendo que decorar tudo e perdendo o encanto com o principal, as histórias.
Apesar dessa dificuldade, alguns alunos acabam se apaixonando por essa disciplina: uma Ciência diferente, que como uma investigação policial, não observa o seu objeto de estudo diretamente para tirar suas conclusões e realizar suas teorias, mas que junta pistas como se fossem peças de um quebra-cabeças cuja solução não é uma figura qualquer, mas o retrato de um povo ao longo dos séculos.
Para esses amantes da História, a obra de Eduardo Bueno cai como uma luva: é um livro rico em detalhes que narra como Pindorama (como os índios Tupi chamavam nossa terra) se tornou a Ilha de Vera Cruz, ou seja, o embrião do que viria a ser o nosso tão amado e sofrido país.
Esse conteúdo didático pode assustar um pouco um leitor acostumado com ficção, descrevendo assim parece ser um daqueles livros que os professores obrigam os alunos lerem para que depois façam um resumo ou apresentem um seminário. Por favor, não pense assim! Escrito a partir de cartas, documentos e crônicas da época, assim como estudos de historiados consagrados, a leitura é dinâmica, cheia de ação e transporta o leitor aos olhos dos tripulantes dos navios da esquadra de Cabral, como já disse na introdução: não é uma lista de nomes e datas, é uma história no sentido real da palavra, com toda empolgação e suspense encontrado em textos fictícios.
Também não é um Romance Histórico que mistura história real e ficção, reconstruindo ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens históricos. Todos os fatos e pessoas citados aconteceram realmente, são bem documentados, e importantes para entendermos o que levou a Coroa Portuguesa fazer essa viagem e a importância das chamadas Grandes Navegações para a Época. Bueno soube dosar muito bem informação e emoção, como pode ser notado no trecho abaixo:
Muitos trechos mostram as dificuldades da viagem marítima numa época em que os instrumentos dependiam das estrelas, as pessoas acreditam em monstros marinhos e que estavam navegando por mares desconhecidos, eram aventuras cheias de perigos e mistérios. Contar a história desse jeito é bem mais interessante que um resumo da viagem narrado como no relato abaixo:
“Ao todo, foram 45 dias de viagem antes da chegada da frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. A expedição saiu de Portugal no dia 9 de março de 1500, um domingo de sol. De acordo com o relato contido na carta escrita por Pero Vaz de Caminha, a esquadra avistou o monte Pascoal a 70 km da costa no dia 22 de abril de 1500, uma quarta-feira.”
A informação acima, tirada de um site educativo, é um retrato do que geralmente acontece nos livros didáticos: vários dados jogados sem emoção, no qual só resta aos alunos/leitores decorarem nomes e datas. O sucesso da coleção de Eduardo Bueno mostra como superar isso, espero que esse sucesso se repita nesse relançamento.
site: http://www.rascunhocomcafe.com/2016/09/a-viagem-do-descobrimento-e-assim.html#.WQngBhMrLIU