Maria Gabriela 02/10/2021
O que mais me chamou a atenção foi a diferenciação evidente que Agatha Christie apresentou: não existe uma morte a ser investigada. Não há vítimas de um assassinato brutal, com corpos pendurados ou gargantas cortadas, envenenadas ou esfaqueadas. Não, pois a vítima está viva e ilesa. Quando li "A Casa do Penhasco", não tive muita fé quanto sua qualidade, afinal, a autora mudou drasticamente de mortes horrendas e trágicas para personagens cheios de vidas e sem lesões evidentes. Entretanto, tratando-se do célebre Hercule Poirot e seu companheiro mais fiel, Capitão Hastings, o mistério banal de meras tentativas fracassadas de assassinatos se tornou um espetáculo.
Poirot e Hastings estão passando uma temporada no Hotel Majestic, na costa da Cornualha, onde encontram uma bela jovem chamada Nick Buckley, a proprietária da antiga casa do penhasco. Uma casa majestosa. Mas, Poirot acaba presenciando uma tentativa de homicídio a Nick: uma bala passou de raspão por seu chapéu, sem que ela se desse conta! Para Nick, poderiam ser meras coincidências infelizes do universo e uma onda de azar que havia caído sobre ela, mas ondas de azares não disparam balas em direção a sua cabeça. A jovem já havia fugido da morte outras três vezes, e quem garantiria que haveria uma próxima conforme as coisas tomavam seu rumo? A qualquer momento pode haver uma nova tentativa de homicídio!
Como disse antes, não tinha colocado tanta fé no livro, mas conforme fui apresentada as escapatórias de Nick da Morte, meu foco automaticamente mudou. Há muitos personagens que são introduzidos e mantém relações com a jovem moça, todos com suas próprias histórias e segredos, o que deixa o leitor ainda mais angustiado. Dessa vez, os detetives estão em um local público e movimentado, e qualquer um pode ser o assassino. Nick é tão feliz e não possui inimigos, então quem poderia desejar a sua morte?
É um livro curto e de fácil leitura, afinal, Agatha não consegue escrever obras paradas e entediantes (e ainda bem que não, amém!). Confesso que cheguei a cogitar que não passa de uma história de fantasmas, mas me surpreendi com quem era o assassino e adorei como Poirot demonstrou tamanha preocupação por uma vítima, pronto para defende-la com unhas e dentes.