Grendel

Grendel John Gardner




Resenhas - Grendel


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Newton Nitro 09/09/2014

Um monstro existencialista!
Depois de ter mergulhado na Saga Malazan, pensei em ler os autores que influenciaram Steven Erikson, para descobrir as origens de seu estilo de prosa poética. E encontrei com um dos seus professores de escrita, o fantástico John Gardner. John Gardner é um escritor americano famoso na década de 70 principalmente com Grendel, uma recontação do poema épico Beowulf pelo ponto de vista do monstro da narrativa.

Beowulf foi adaptado para o cinema várias vezes, das quais a minha preferida foi a adaptação baseada no roteiro de Neil Gaiman. O poema, escrito em Old English entre o século 8 e 11, conta a história de como o herói Beowulf destruiu Grendel, um monstro que estava atacando dos Scyldings, no salão real de Hrothgar, o rei dos Danes. Apesar do poema original narrar outras aventuras do herói Beowulf, a reescrita de John Gardner termina com a morte de Grendel.

O livro Grendel é considerado por muitos críticos como um dos melhores da literatura americana, o que eu concordo completamente. É um livro curto, apenas 200 páginas, mas com uma prosa impressionante e muito bem trabalhada, uma aula de escrita.

A história é escrita dentro de uma prosa poética, da qual vejo ecos no estilo de Steven Erikson na saga Malazan. O ponto de vista de Grendel é reforçado pela própria prosa, as vezes fragmentada, com o ritmo e o sons das palavras ecoando os grunhidos e lamentos do monstro. Tema, estrutura, forma, som e ritmo estão interligados com maestria, revelando uma obra de um artesão da palavra, e sustentando todos os argumentos feitos por John Gardner em seu The Art of Fiction (seu guia para escritores iniciantes, um clássico do gênero), de que uma narrativa precisa ser trabalhada até atingir o leitor com o maior número de camadas e níveis possíveis.

O livro se beneficia das especialidades de seu escritor: Gardner, além de escritor, era um importante professor de literatura medieval e um especialista em linguas antigas.

A narrativa é feita em primeira pessoa, cheia de emoção. Grendel, o monstro, observa os humanos com um ponto de vista cínico; rejeitado por sua monstruosidade, ele revela a hipocrisia por trás da civilização humana, a recriação da história por meio das mentiras poéticas dos bardos, a auto-destruição alimentada pela infinita ganância humana.

O tom do livro é complexo, com passagens brutais, irreverentes, filosóficas e cínicas. Grendel é uma espécie de monstro existencialista, tateando no vazio da realidade e se recusando a aceitar que algo exista independente do que sua experiência pessoal revele, sua existência já o basta, apesar de sofrer e enlouquecer na prisão da solidão que lhe foi forçada por sua condição de monstro.

A narrativa induz a uma nova visão do Outro que consideramos monstro, é incômodo notar que a humanidade, a natureza humana está tão presente no que convencionalmente chamamos de bem quanto no que convencionalmente chamamos de mal. Ou somos todos monstros ou somos todos humanos.

Fica a recomendação! :)
Belle Araújo 20/06/2022minha estante
adorei tua resenha. marquei 'quero ler' aqui apenas porque Grendel é um dos monstros em Beowulf e esse livro parecia minimamente interessante, mas tua resenha deu toda uma nova luz pra minha primeira impressão e agora estou ansiosa para essa leitura!




Pedro Matias 14/09/2023

Um monstro contra o monstro do nilismo
Grendel, o monstro das lendas de Beowulf, passa por uma jornada para transformar-se naquilo que é. Acompanhamos como ele se rende ao niilismo e enfrenta a falta de sentido da vida. A história é interessante, e sentimos muito empatia pelo isolamento dele.
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