Fabiola Hessel 05/06/2021
O subsolo, a escuridão de cada um
Que livro potente, incômodo e angustiante, pra mim tem todos os elementos de Crime e castigo, mas de forma mais sintetizada e menos prolixa. O que ao meu ver torna o livro ainda mais intenso.
Sempre me impressiono com a capacidade que Dostoiévski tem de me envolver nos sentimentos e emoções dos personagens, as palavras se tornam uma ponte, que me leva diretamente ao coração angustiado deles, para mim é essa a mágica de ler Dostô.
As memórias do subsolo na verdade são uma tentativa do narrador de justificar a si mesmo e convencer o leitor de que o homem do seu tempo está fadado ao fracasso, existe um tom de desilusão com a humanidade e com o uso exacerbado da razão.
Ele acredita que a racionalização, a ciência e o conhecimento estão ditando o modo de viver das pessoas, que tentam suprimir seus instintos, vontades e sensações.
Para demonstrar toda essa descrença com o mundo e as pessoas o narrador, nada confiável por sinal, usa anedotas de sua vida, "causos" que ilustram a sociedade, como ele reagia a ela e o quanto isso o afastava dela, gerando aquele homem humilhado e ofendido tão comum às obras do Dostoiévski.
O narrador na posição de humilhado e ofendido, acaba agindo assim, humilhando, ofendendo e tiranizando quem pode, me causando uma aversão à ele e ao mesmo tempo fiquei compadecida pela situação, já que ele foi uma vítima, tanto das circunstâncias, como de si, principalmente de si e das suas escolhas.
Mesmo sendo uma releitura para mim foi mais intenso e impactante que a primeira leitura, acho que por ter mais contato com a obra do Dostoiévski (tenho lido a obra dele em ordem cronológica nos últimos anos) e maturidade para reconhecer as nuances.