Marinho 18/06/2011
Uma cruzada mirmecoana, uma investigação humana, e uma situação-limite intercalando ambas.
Em AS FORMIGAS, Bernard Werber nos introduzia ao universo um pouco enigmático das formigas, de um formigueiro em especial. Nesta segunda parte da trilogia O IMPÉRIO DAS FORMIGAS este universo é consideravelmente ampliado, até o nível dos humanos.
O livro aborda, mesmo que metaforicamente, muitos temas do estilo de vida humana. As próprias formigas são utilizadas de forma metafórica para expor os nossos problemas, como por exemplo, o "engarrafamento no formigueiro-metrópole" e o primórdio da idéia de individualidade. Apresentadas como seres tão inteligentes quanto nós e com evolução à parte, a sua natureza de instinto coletivo do mundo real não foi esquecida, porém. Tanto que o início do senso de invidualismo pode ser considerado o tema central deste tomo.
Outro tema de igual importância é a religião. Apenas ingênuos não conseguirão perceber que essa é uma clara alusão às nossas próprias religiões. As formigas, sem as respostas a que deviam se perguntar em relação ao seu propósito e origem, começam a atribuir esses propósitos aos Dedos (humanos), mesmo que de forma induzida. Exatamente como fomos um dia. Sem concretismo, para preencher as nossas duvidas, buscamos no abstrato e no divino essas respostas. Enquanto a nossa ciencia já se encontra avançada o suficiente para nos dar o benefício da dúvida em relação as da religião, na civilização mirmecoana o fato de existirem deuses parece ser a resposta concreta para tudo. E essa religião começa a se divagar para as irmãs-formigas, crescendo cada vez mais. Mesmo que introduzida de forma ingênua, a religião pode causar nesse universo de insetos uma revolução,com seus bens e males.
Além desses temas, muitos outros são abordados, mesmo que com menos foco. A enciclopédia contida no livro é um prato cheio de hipotéses, podendo ser tema de debate capítulo por capítulo. Nessa segunda parte, o foco dela foi mais filosófico ainda do que científico. Servindo de guia para os dois grupos de humanos relatados, nós próprios somos questionados sobre diversos aspectos.
Apesar de ter ampliado o universo do livro anterior e gerar tantas relfexões, o que já é mérito e mostrando que o livro vale a pena ser lido, ele peca por dois aspectos. O primeiro é o informativo. Deve-se ler o livro tendo em mente que muita coisa ali é fantasia. Não, Bernard Werber não utilizou uma história fictícia apenas para contar fatos e idéias do mundo real, mas ele também escreveu fantasia. O problema é que não sabemos distinguir exatamente quando é fantasia e quando é real, retirando um pouco a credibilidade do livro e diminuindo seu publico alvo. Aliás, qual é esse também não fica claro. Crianças podem até gostar da parte de aventura das formigas, mas acharão entediante toda a parte da enciclopédia e dos questionamentos das formigas. Já adultos podem achar a história fantasiosa demais, logo no ínicio, ao verem que "formigas pensam" (mesmo que a visão do autor é de que isso existe mesmo). Porém, para algum leitor chegar aqui, ele provavelmebnte terá passado pelo primeiro livro, AS FORMIGAS, e se não gostaram do estilo, provavelmente pararão por lá mesmo.
Outro aspecto negativo é a história. A construção e desenvolvimento dessas estão em ótimo nível (talvez nem tanto no que concerne ao grupo de humanos embaixo do solo, fantasiosa por si só). O problema grande está nos desfechos, que não convencem. Bernard sabe escrever e desenvolver, mas não sabe fechar. Assim como em AS FORMIGAS, a solução dos mistérios apresentados nesse livro não correspondem às expectativas. Talvez por serem fora do comum e da nossa realidade, talvez por serem inesperados, ou talvez por serem fantasiosos demais para um livro que se propõe a se ater nas bases científicas para contar uma história. O autor é excelente na questão de propor temas e explicar a ciencia, mas quando é hora de contar a ficção, perde um pouco a qualidade.
Concluindo, é um livro que merece sim ser lido. Ele é amplamente metafórico, por utilizar as formigas como meio de explicarmos a evolução de nós mesmos, e pode ensinar um pouco de ciencia, mesmo que esta deve ser acreditada com um pé atrás, sendo melhor pesquisar os assuntos para saber se o autor só falou a verdade ou exagerou. Os que leem esse livro buscando apenas um mix de aventura, policial e drama terão o que querem, mas podem se decepcionar, mas o conjunto da obra em si já vale essa sequência e a próxima, desfecho da trilogia.