Elias Flamel 19/05/2024
Jovem retratado como jovem
Sasuke não sabe lidar com a raiva e a frustração. Em vez de canalizar este sentimento negativo em algo proveitoso, responde com birra, teimosia e infantilidade. Gosto quando personagens adolescentes ou pré-adolescentes possuem defeitos. Além de ser um artifício que gera verossimilhança, provoca reflexão no público que está lendo.
Ainda sobre o garoto Uchiha, o reflexo dele com Kakashi é um grande acerto. Existe uma figura paterna, alguém que perdeu tudo e mesmo assim não sucumbiu para o caminho do ódio e isolamento. Sasuke tem escolha. Grandes conflitos geram perguntas difíceis de responder e a obra está fazendo bem isso. Não é fácil seguir o caminho da bondade quando o irmão que tirou tudo o provoca, fazendo-o sentir-se fraco. Quando a vingança estava somente na cabeça , ele podia se sentir o mais frio e determinado sem nada de ruim acontecer. Ir de encontro ao seu objetivo na prática o coloca de frente a uma terrível realidade. Como lidar escolhas e a frustração? Isso é amadurecer. A obra acerta demais ao trabalhar com este personagem.
Agora é o momento de falar da Sakura. Eu não gostava desta personagem em meu primeiro contato com a obra, simples assim. Hoje, sendo escritor que tenta de alguma forma manter a arte de escrever viva, teimo em tentar ver as intenções de Masashi Kishimoto. O que mais vejo é ela entregando um amor incondicional para o Sasuke. Diferente de Naruto que mostra sentimento, mas ao mesmo tempo questiona e contradiz aquele que ama. Existem jovens que não sabem lidar com o primeiro amor, ainda mais quando se arrastam por tanto tempo como é caso da Sakura. Um sentimento não correspondido sem amadurecimento deixa qualquer um plano e sem objetivos gerando ausência de amor próprio. Ela já teve um pequeno arco sobre dependência emocional com a Ino e há elementos para mudança, crescimento ou um drama. É esperar para ver o que vai acontecer.
Em paralelo ao trio principal de ninjas, existe o drama de Rock Lee. Ele precisa passar por uma operação e tem 50% de chance de morrer. É algo que possui uma carga dramática forte. Porém, ela é envolvida com a determinação característica do garoto e de seu mestre. Sinto que faltou espaço para trabalhar esta questão. Diante da morte Rock Lee, um garoto, responde só com superação? E o medo? O que ele vai perder? E os pais dele? As amizade? A relação com o mundo? Tudo aquilo que sonhava em viver e pode perder? Não conseguir sentir este medo que é um fator determinante, ainda mais, quando o risco de morte é tão alto.
Acredito que o autor tenha potencial para trabalhar isso, mas o mangá aposta a maioria das fichas em Sasuke. É possível andar em vários caminhos em uma obra de consumo e produção rápida como são os mangás da Shonem jump?