Joao.Paulo 11/11/2020
A superficialidade dos diálogos
O livro acontece sempre no encontro entre dois personagens que mantem uma relação, basicamente, de serviço sexual, que nunca é especificado. A personagem sempre está contando algo para João, daí o título ''Nem te conto, João''. Sendo um livro que irá só se passar em um momento, baseado em um contar esporádico de acontecimentos quase crônicos da vida do personagem, existe um enorme risco de se tornar algo simplesmente ilustrativo, que não articula algo em sua linguagem, já que ela mesma é basicamente posta de lado. A exposição é a própria linguagem do livro.
Os diálogos entre os dois personagens, da forma que é colocada aqui, basicamente anulam alguma forma de aprofundamento que não seja narrativo. Existe uma espécie de relação de confidência, mas que não parece levar a nada, nem saber o que quer com sua forma. Acaba sendo mais um jogo de fofocas e frases prontas que não levam a lugar algum. Existem livros que não nos levam a lugar algum, onde o seu principal ''conteúdo'' é justamente seu estilo (Lolita), ou que lidam com essa característica como fator mais pessoal e desoladora (Quarto de Jacob), mas não vejo nenhuma dessas veias funcionando aqui.
Talvez um aprofundamento mais psicológico seja o mais adequado, perante essa relação sexual de prestação de serviço, que acaba se interessando pela relação mais pessoal do que a sexual propriamente dita, mas mesmo assim me soa superficial e ilustrativo.