Marília Mangueira 05/09/2023
Conselhos de vida para os artistas
Quando li obra "Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke, pude me deliciar com a visão de mundo (inclusive mundo interior) do escritor. Logo nas primeiras páginas, Rilke diz que "ninguém pode aconselhar e ajudar ninguém" pois todas as respostas estão dentro de nós. E ainda que tenha afirmado isso, todas as cartas que envia em resposta a Franz Xaver Kappus (um poeta que está na dúvida entre a carreira militar e a literária) são conselhos valiosos que cedeu a este jovem por meio da escrita, nos anos de 1903 a 1908, e hoje, lendo-as em 2023, percebo que Rilke vai além de um Coaching Literário, pois ele abre a alma àquele desconhecido homem, desnudando toda a paixão pelo ofício literário, de uma forma pragmática e sincera. Mostrando que o ofício da escrita é um caminho que se percorre mais por dentro do próprio ser, do que por fora. "Confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever?" O autor nos convida a vasculhar o mais íntimo do nossos sentimentos e buscar as respostas nas horas mais silenciosas.
Ele dá dicas de bons livros - pois quem escreve, também precisa ler - para abrir-lhe um novo mundo. A literatura nos assombra, nos encanta, é capaz de nos tocar com esplendor e profundeza.
... "Diga o que vê, vive, ama, perde".
Com uma maturidade invejável, Rainer Maria Rilke é grato por tudo. Consciente da própria vida, das condições e das dificuldades, ele aconselha o jovem poeta a amar harmoniosamente cada fase da vida - até a solidão - sem pressa e com proveito de tudo. A vida tem ciclos, e cada um, como uma fecundação, vai de encontro a um acontecimento.
Finalizo, aprendiz e apaixonada pelas lições de Rilke, dentre muitas (vale a pena ler o livro) uma delas me chamou a atenção: "Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranquila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão. O verão há de vir. Mas virá para os pacientes, que aguardam num grande silêncio intrépido, como se diante deles estivesse a eternidade."