spoiler visualizarThali 29/10/2024
Machado de Assis é um gênio!
Em *Dom Casmurro*, Machado de Assis prova sua genialidade ao deixar aberta a questão da traição de Capitu, conduzindo o leitor a uma dúvida que atravessa os séculos. A história é narrada por Bentinho, que, já adulto, rememora seu romance com Capitu, uma mulher de ?olhos de cigana oblíqua e dissimulada? que gostava de ser admirada, com um mistério envolvente. Desde a infância, os dois se apaixonaram e desafiaram as expectativas familiares que planejavam o ingresso de Bentinho no seminário.
Bentinho, em sua narração, mostra-se profundamente ciumento e possessivo, e revela sinais de insegurança desde os 14 anos. Quando Escobar, seu amigo carismático e inteligente, entra em cena, Bentinho vê nele alguém encantador e com uma afinidade que apenas reforça seu ciúme. No entanto, é só após a morte de Escobar que as suspeitas de Bentinho sobre Capitu se intensificam. Para ele, o filho, Ezequiel, possui traços que o fazem lembrar do falecido amigo, algo que, segundo meu ponto de vista, revela mais sobre o estado mental instável de Bentinho do que qualquer prova concreta de traição. A obsessão doentia e o ciúme distorcem a realidade, levando-o a ver semelhanças que talvez nem existissem.
Além disso, o próprio Bentinho dá sinais de infidelidade, ainda que em pensamento, ao mostrar atração por Sasha, deixando a percepção de que seu ciúme pode ser uma projeção de suas inseguranças e desejos não realizados.
A meu ver, Capitu não traiu Bentinho; ela foi vítima das inseguranças dele, que Machado de Assis brilhantemente embala em uma narrativa sutil, deixando a verdade como um mistério que vive na mente perturbada do narrador. A complexidade e a profundidade dos personagens reforçam a grandeza de Machado, que construiu um enigma atemporal sobre amor, ciúme e a fragilidade da memória humana.