gabrielrdcunha 01/08/2024
O querido e polêmico bento santiago
depois de cinco anos resolvi reler esse clássico de Machado. irei confessar que entre ler obrigado pelo colégio e por prazer, por prazer é obviamente melhor. rele-lo não fez mudar a opinião que tinha anos atrás, todavia me fez enxergar detalhes que antes eram imperceptíveis - detalhes estes que apenas reforçaram o meu ponto de vista: nunca houve traição.
estamos em meados de 1800; anos de império brasileiro, da elevação do Brasil à província, a economia fluía bem, parecia um novo começo. nesse cenário, conhecemos a família de bentinho que residia em Itaguaí, sua mãe d. glória possuía o desejo profundo - ou melhor, uma promessa antiga - de tornar seu filho bento santiago cumpridor das atividades eclesiásticas. esse desejo da mãe era o oposto do filho, que ao conhecer seu primeiro amor - capitolina - jura passar o resto da vida junto à ela. anos se passam, e mesmo sem querer, ele é levado ao seminário para servir aos deveres sagrados e é lá que conhece escobar - o jovem que viria a ser seu melhor amigo durante boa parte de sua vida. até então, a história é lenta, tudo flui numa vagareza detalhista sem fim. bento coloca outro para servir-lo no seminário; se especializa em direito e volta pra casa. e é lá que o amor da sua vida está a sua espera, depois de anos o amor de duas crianças se torna realidade e mais um vez, a narrativa se torna devagar, os dois se casam, têm um filho juntos e compram uma casa pra viverem sossegados. bom até aí - meu caro leitor como dizia casmurro ao relatar suas lembranças - tudo parecia bem. eu estava dizendo bem? eis que veio uma onda que derrubou todos, uma catástrofe melhor. de maneira trágica, escobar sofre um acidente no mar e morre na qual abala a todos, principalmente seu melhor amigo. o que acontece depois desses capítulos é que se segue o resto da obra. tudo é muito rápido, informações que não há tempo de serem digeridas, uma escrita melancólica e sombria. bento fica arrasado depois do ocorrido que até tenta tirar a própria vida, mas não satisfeito, começa a questionar antes que capitu havia um caso com seu melhor amigo - pela semelhança do seu filho Ezequiel como o amigo - o que leva-o a uma ideia cruel de tentar envenenar o próprio filho. tudo se sucumbe, quando ele decide que os dois precisam se separar e manda os para bem longe do Brasil.
no fim, após alguns anos, todos que um dia ele amou - principalmente seu amor de infância capitu - se foram. e bento santigo se torna dom casmurro, um homem cheio cheio de arrependimentos e uma solidão frívola; me pergunto se ele atou a infância à adolescência? acho que não...
machado tinha um jeito único de escrever e com esta obra não é diferente. abandonando total o romantismo, machado de assis apela para o realismo de uma sociedade brasileira - cheia de incertas, sonhos não realizados e amores duvidosos. e é por isso que é um dos maiores - se não, o maior - da literatura brasileira!