belaffig 27/05/2024"...Mais falto eu mesmo, e essa lacuna é tudo."Primeira vez lendo esse clássico e foi muito gostoso de acompanhar! O Machado tem uma escrita que te deixa voraz, te enreda na trama, prega seus olhos no livro e te faz questionar tudo toda hora. Ele tem algo que me chega como misterioso (por não ter ideia de como consegue realizar isso) em ir emendando frases umas nas outras e enchê-las de um peso que parece tão fácil de ser inserido entre palavras.
O livro se delonga na infância e adolescência de Bentinho, o que vejo como propositadamente agora, mas é na segunda metade da história que a potência se faz sentir. O impacto do protagonista morar em uma casa que busca ser a mesma (sem nunca ser) em que viveu no começo da vida parece já contar, ao buscar voltar para o início sem conseguir reverter a sua história, que o princípio do fim já estava ali, entre a magia do começo. Eu sou muito cativada por contos que acompanham seus personagens por anos e anos, e a jornada de Bentinho e seu ensimesmamento e dissociação de si mesmo, da realidade e do que considera sagrado é cheio de uma tristeza que fica carregada de um jeito muito único quando a vida toda do personagem é posta por ele na nossa frente de um jeito tão displicente. Queremos saber mais, queremos entender. Quando se deu a derradeira mudança? Sempre foi ou começou a ser? Não importa mais.