Moisesmams 16/01/2024
Propositalmente dúbio.
Já é sabido os motivos pelos quais as pessoas tendem a acreditar que Capitu não traiu Bentinho: ele demonstra ser possessivo e ciumento; toda a história é narrada à sua perspectiva, esta, por sua vez, infectada pela sua opinião; o narrador sendo Bentinho que era advogado, teria muita técnica ao escrever, podendo pender a narrativa ao seu favor; ele parecer escrever aquilo como uma forma de catarse auto-justificativa, etc. E todos esses pontos são determinantes sim, e pelo peso deles (e mais alguns) que eu mesmo tendo a acreditar que Capitu não traiu!
Mas é interessante observar que as coisas não são tão simples assim... Há dois tipos de pessoas que assumem a traição de Capitu: aquelas que só aceitaram a narrativa de Bentinho, sem nenhum questionamento; e aquelas que, mesmo sabendo de todos os argumentos pró Capitu, ainda acreditam na sua traição. Este último grupo sempre me deixa atento a suas observações, que são muito pertinentes, e que por estas mesmo que eu não ouso chegar em uma conclusão definitiva por ora! Um dia quero reler essa obra, mais maduro, tendo lido Otelo, prestando mais atenção nos nuances, nos detalhes, e por aí vai.
Até pensei em deixar um parágrafo apontando elementos que favoreceriam ambos os juízos, mas prefiro deixar isso à trabalho de quem ler.
O fato que eu queria registrar é que não é tão simples. Machado deixou algo dúbio, ambivalente, de propósito! Li uma vez que o Tarantino, enquanto escrevia o roteiro de "Os oito odiados", em certo ponto não sabia ele mesmo quem havia envenenado uma garrafa de café que intoxicara pessoas determinantes do filme; penso que talvez nem o Machado soube com certeza!
No mais, foi a primeira leitura de 2024. Li a maior parte do livro à beira mar da Praia Azul, na cidade de Pitimbu - PB. Que livro maravilhoso! Ecoa em mim até agora, 1 semana depois de concluído, e espero que ecoe por anos.