Eduardo 13/05/2024Não sei se entendi todas as nuances do livro – o que me dá a desculpa de uma segunda leitura daqui a um tempo – mas creio que consigo dar uns “dois centavos de opinião” sobre a história, mas principalmente de Bentinho.
A meu ver, desde o começo não dá para confiar na narrativa dele. Dava para notar desde o começo da história que, mesmo com seu exercício de dizer a verdade, suas afirmações não eram confiáveis – toda a questão da dissimulação da Capitu, o leitor vai descobrir lendo, é um belo exemplo disso.
Nunca há na narrativa um motivo real para desconfiar de Capitu (embora se tenha de Escobar), mas há motivos muito concretos para se questionar o juízo de Bentinho em diversas situações, onde ele demonstra não amor à Capitu, mas um ciúme doentio, uma obsessão, paranóias e delírios que dá para se suspeitar que o personagem sofre de algum grau de esquizofrenia.
E isso fica cada vez mais nítido na história, quando o personagem descreve atitudes e pensamentos seus, além de tornar a narrativa cada vez mais enviesada e pouco digna de confiança. No final, toda a questão da traição, e da suposta semelhança do seu filho com Escobar, podem muito bem serem geradas pela sua mente deturpada e paranóica.
Há muitas questões que podem ser esmiuçadas e estudadas nessa história. Mas o que eu posso dizer, e sou capaz de analisar no momento, é que ela não se trata exatamente sobre se a Capitu traiu ou não Bentinho, mas sim sobre como uma pessoa desequilibrada, que mesmo tendo tudo para ser feliz, consegue destruir a si mesmo e acabar sozinha e amargurada, depois que uma única perda faz explodir o que já havia dentro dela.