CamilA 10/08/2024
Muito bem escrito!
Esse livro é uma obra prima!
Escrita muito boa, inteligente, enigmática e atemporal.
Ao longo do livro acompanhamos a história de amor entre Bentinho e Capitu.
Começando com a aflição de ambos ante a iminente ida de Bentinho ao seminário, depois de uma promessa de sua mãe de tornar padre seu único filho vivo, nascido com saúde.
(Desse fato já fica meu questionamento sobre a baixa fertilidade da família, que pode ser passada à próxima geração).
Depois de reflexões e estratégias para encontrar alternativas e deixá-lo livre da ordenação eclesiástica, eles encontram uma solução e Bentinho é dispensado do fardo, mas o seminário é importante, porque é onde ele conhece seu grande amigo Ezequiel de Sousa Escobar.
A história toda é narrada por Bentinho, então tudo o que vemos é através de seu ponto de vista, mas ainda assim podemos ler o que ele não diz diretamente, interpretando as cenas.
O próprio narrador nos permite isso quando fala: ?É que tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas.?
Como por exemplo, muitas vezes ele se mostrou influenciável, precisava que outros pensassem por ele, sempre a pedir conselhos e a usar as falas de outros para suas ideias.
É o caso da famosa descrição de Capitu: ?olhos de cigana oblíqua e dissimulada?, dita pelo agregado José Dias e depois posta à prova por Bentinho, que se esforçou para ver na amada o que ouviu do outro.
Ou seja, muito de sua insegurança com relação ao amor de Capitu veio de falas de José Dias, mesmo quando ela era amorosa e carinhosa com ele e sua mãe.
O romance juvenil é muito bonito de acompanhar, ao ponto que fica difícil imaginar uma traição futura.
O fim dele é triste.
Talvez o ciúme exagerado de Bentinho, que ele mesmo admite, junto com seu temperamento possessivo para com sua amada, poderiam ser um gatilho, mas não sabemos os pensamentos de Capitu.
Uma das justificativas que Bentinho usa em sua cabeça para ?provar? a traição da esposa é a de que por mais que tentassem, eles só tiveram um único filho e este possuía a aparência e a cor dos olhos do amigo, mas vale lembrar que assim como Escobar, Capitu também tem os olhos claros, como descrito no trecho: ?Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.?
O autor também ressalta no início a semelhança entre pessoas que não possuem qualquer parentesco, comparando a aparência da mãe de Sancha com Capitu.
?Gurgel (pai de Sancha), voltando-se para a parede da sala, onde pendia um retrato de moça, perguntou-me se Capitu era parecida com o retrato. Um dos costumes da minha vida foi sempre concordar com a opinião provável do meu interlocutor, desde que a matéria não me agrava, aborrece ou impõe. Antes de examinar se efetivamente Capitu era parecida com o retrato, fui respondendo que sim. Então ele disse que era o retrato da mulher dele, e que as pessoas que a conheceram diziam a mesma coisa. Também achava que as feições eram semelhantes, a testa principalmente e os olhos. Quanto ao gênio, era um; pareciam irmãs.?
Como conclusão tendo a achar que Capitu não traiu, que Bentinho viu o que quis ver e o autor nos deixa ser influenciados pelas inseguranças do narrador, que é teimoso (?Dom Casmurro?) e não confiável, dando margem à dúvidas e questionamentos, quando também nos deixa a cargo da interpretação.
Genial
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