rosangela 20/11/2009
Angústia
Angústia é um romance psicológico, com narrador protagonista Luís da Silva, um rapaz de 16 anos que fica só no mundo ao perder o pai e cresce menosprezado por não ter o nome grande do avô - Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva - e nem ter conquistado nada.
É interessante verificar que Graciliano Ramos inicia o romance com o que acontece no final do livro, ou seja, quando Machado de Assis começa Memórias Póstumas de Brás Cubas pelo enterro do personagem, aqui o começo se faz aos trinta dias de tortura, que Luis da Silva passa após cometer, no final do livro, um homicídio.
Luís da Silva cresce com um senso crítico aguçado ao mesmo tempo que também cresce com um sentimento agravante de baixa autoestima, de autodepreciação, que irá interferir em toda sua vida. Luís é um funcionário público lotado na Diretoria do Tesouro em Maceió-AL com um salário médio, submisso aos chefes se sente um grande estúpido em tudo que tem vontade de fazer.
Seu inimigo Julião Tavares, um conquistador de mulheres, sócio da empresa Tavares & Cia, que corrompe Marina, a namorada de Luís, com quem fazia o enxoval para o casamento. Uma mulher que em comum com Luís só mesmo a atração sexual, pois esta gostava só da luxuria, o que acabou com as economias de Luís. A cada dia que Julião tentava conquistar Marina mais Luís o odiava chegando mesmo a nutrir com o tempo, um verdadeiro asco psicótico. Luís também entra em depressão, passa a beber, não toma banhos, perambula sem qualquer vontade de existir.
Luís vivia uma vida de alucinações, que vão tomando corpo, como se fossem aos poucos se materializando conforme as oportunidades surgidas. Desliga-se de Marina e se embrenha pelos caminhos da angústia e necessidade de exterminar Julião e seus pensamentos tomam forma de cordas, fios, casos de vingança de honra, prisões e assassinatos.
Quando Marina aparece grávida é o ápice da loucura e psicose de Luís, que passa a vigiar os dois e ao descobrir que Julião manda Marina abortar, Luís se arrepende, mas chega a chamá-la de puta. E quando um mendigo lhe dá uma corda, do nada, Luís não tem mais dúvida, segue Julião até a casa da nova amante dele. Quando Julião aparece em sua frente e em meio uma névoa da madrugada Luís o enforca e prende o corpo em uma árvore.
Após isso, Luís vira um idiota que não entende mais nada, esfarrapado, sujo, atordoado e sem memória, não sai mais de casa. Tudo são abandono e sentimento de solidão, porém a simbologia do ato de Luís fica nítida no homicídio, como se Luís tivesse arrancado do mundo a raiz do mal, da injustiça, da desigualdade que tanto tinha aversão quando - mata Julião - foi como se tivesse banido da humanidade todos os homens ruins.
Romance psicológico intenso, angustiante mesmo, de um funcionário público crítico e inconformado com a rotina e desigualdade social...