andrielle 20/09/2023
A angústia em ser pobre.
Angústia é um livro confuso e difícil de se ler, sua narrativa inteiramente intimista se forma baseando-se na mente do próprio personagem, confuso, louco e alucinante. Acontecimentos da infância de Luís da Silva se misturam ao presente como flashbacks a todo momento, seus sentimentos intensificam todas as sensações da história, os sons, a sujeira, a personalidade dos personagens, tudo contado pelo próprio Luis da Silva, tudo baseado em sua visão, mostrando a enorme agonia que o personagem sente em relação a tudo em sua volta.
Luís da Silva representa o proletariado brasileiro ainda em sua atualidade, um emprego medíocre, com salário medíocre, fazendo coisas medíocres, Luís escreve o que o governo lhe pede, elogia quem lhe pede, sua escrita não é incrível, não é um famoso escritor nem há chances de se tornar um, é um intelectual mas não debate, não discursa, não tem artigo de relevância. Sua carreira continua estagnada, jamais fez algo de brilhante na vida, tem casa e prato de comida mas jamais terá relevância social. Além de tudo Luís é um fracasso na vida amorosa, o tornando também faminto pela vida sexual que posteriormente o traria grandes problemas.
Historicamente falando, angústia se passa em um momento de urbanização, onde o Brasil começa a largar suas raízes oligarquicas dando lugar a uma república industrializada não mais centrada no nordeste ou no interior. Tais acontecimentos se mostram na própria fragmentação de Luís, onde sua infância mostra a antiga vida no interior, mais abastada para ele, neto de coronel, e suas raízes escravocratas, conservadoras. Já no presente, a imundície da cidade grande toma conta, os vagundos, descritos inúmeras vezes, aparecem junto das prostitutas, uma representação perfeita da revolução industrial.
Em meio a tudo isso a imagem de Julião Tavares aparece, Julião representa todo o fracasso de Luís, representa a burguesia, os beneficiados com a urbanização. Ele mais que ninguém é o motivo de toda a angústia de Luís, nenhum pode viver enquanto o outro não morrer. Os desejos de matar Julião se tornam cada vez mais fortes e reais, o ranço, raiva, vão dando lugar a um odio animalesco, um desejo insaciável que preenche todos os sentidos de Luís, Julião parece roer a vida de Luís como os ratos que não o deixa dormir a noite. Ao decorrer do livro a insanidade e a própria angústia passam a se intensificar cada vez mais na mente de Luís da Silva, não se sabe mais o que é real ou não, a dissociação se faz presente em todos os momentos. Ele precisa matar Julião Tavares. Precisa matar o câncer que se espalha no Brasil.