Derick.Renan 12/09/2024
A leitura de um mito que não poderia ser diferente.
O primeiro contato que tive com a escrita, me fez pensar duas coisas:
A primeira foi ?isso vai ser divertido?. A segunda foi ?não vai ser nada fácil? - e, no começo, realmente não foi.
A Iliada trouxe, pra mim, de imediato, a sensação de ?talvez eu não tenha repertório suficiente? e no começo eu precisava recorrer ao dicionário do google algumas (boas) vezes pra saber se eu tinha entendido certo mesmo ou o que era aquilo que eles estavam falando (como côncavas naus e cnemides). Depois disso, foi fluindo e se tornando cada vez mais interessante de percorrer.
Acredito que não existe meio melhor de vivenciar essa história, do que lendo como a li. Mesmo com alguns problemas com a tradução (com Odisseu sendo chamado de Ulisses e Hercules de Heracles, por exemplo, ou a repetida inserção da palavra ?azul?, que não existia na época em que o livro foi escrito), a experiência de ler, no formato em que é escrito, da um tom mais ?poético? e ?grego? à obra.
Há algumas coisas nesse livro que me fizeram ter ainda mais interesse pela leitura - e ânimo para ler a Odisseia. O fato de Homero nomear praticamente todos os homens que foram assassinados retrata como os guerreiros eram vistos como mais do que simples números na guerra. Todos eram filhos de alguém e tinham alguma qualidade em sua vida antes de partir. Além disso, o conceito de ?Kharis? e ?Hubris? mostra que do maior ao menor dos homens, todos eram apenas peças de um show para os deuses. Enquanto mortais, eles apenas participavam de algo que andava como os deuses queriam que andasse. Da maior graça ao maior castigo, tudo dado era divino. Tudo isso é muito interessante e diferente do que tenho contato na literatura atual.
Falando de deuses, é impossível não perceber como, diferente das divindades atuais, os deuses gregos não eram o simples fruto da perfeição e justiça. Pelo contrário, todos tinham personalidade, eram extremamente parciais e sentiam coisas diferentes com diferentes acontecimentos (fossem eles mortais ou humanos). Os deuses apenas se percebiam superiores por seu poder e imortalidade, mas de nada superam os humanos no livro.
Alguns personagens ganham mais espaço aqui, entre deuses e humanos, e valem a citação. Para fãs de cavaleiros do zodiaco, Diomedes claramente é a maior referência do que é ser abençoado por Atena, até mesmo contra deuses. Heitor é o troiano mais importante e amado de toda a história e faz jus a isso. A relação de Patroclos e Aquiles também traz uma noção de afeto que hoje tem uma conotação e percepção muito mais preconceituosa do que na época (e isso é um pouco preocupante e triste). Por fim, o protagonista, Aquiles, é um personagem que não tem pra onde crescer em poder, mas que termina mais maduro do que inicia, por ordem divina e por ter, para si, a certeza da iminente do fim.