A intertextualidade

A intertextualidade Tiphaine Samoyault




Resenhas - A intertextualidade


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Wellington V. 24/07/2011

Um primor
Recomendo, sim, porque é um primor. Trata-se do resultado de uma pesquisa muito bem feita.

Para estudantes de Letras, Linguistica e -- Deus me livre! (risos) -- Semiótica*.


NOTA

* A minha "bronca" é com a Semiótica greimasiana, a francesa. Da Semiótica de Peirce eu nada direi, porque ainda não a conheço.
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Natali 30/04/2012

A obra de Samoyault mapeia as diversas referências ao termo "intertextualidade" e outros como "citação", "alusão", "paródia", "plágio" e "referência", por exemplo, pensados por teóricos em diferentes momentos da reflexão literária, desde o nascimento do termo por Julia Kristeva até a inflação de definições que resultou na imprecisão teórica atual.
O livro é dividido em três partes: “Uma noção instável”, “A memória da literatura” e “Referência, Referencialidade, Relação”. A primeira é focada na apresentação mais ou menos cronológica dos principais teóricos que pensaram a intertextualidade: os acréscimos de cada um e o que o distingue dos demais. A recorrente citação: “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto” de Kristeva, articulada na esteira da teoria da polifonia de Bakhtin, foi o que aparentemente desprendeu a ponta da cadeia para os estudos intertextuais.
Pensando a leitura do texto literário, Roland Barthes e Michael Riffaterre apropriam-se do conceito de Kristeva, cada um a seu modo, tornando-o mais preciso: Barthes ligado à memória da leitura e Riffaterre direcionando essa memória para o leitor. Mas é Gerard Genette quem primeiramente restringe o termo, definindo intertextualidade como “a presença efetiva de um texto em outro” e, segundo Tiphaine, a partir de então os usuários do termo não o podem mais usar impunemente (p.28). Genette diferencia intertextualidade (co-presença de textos) de hipertextualidade (derivação), e aponta ambos como determinados, localizáveis – o que mais o difere das concepções extensivas anteriores.
Afastando-se da teoria e aproximando-se da crítica, Antoine Compagnon propõe uma análise sistemática da prática da citação, afirmando que “toda escritura é colagem e glosa, citação e comentário”. E, ao falar em bricolagem, “rompe com a idéia e o modelo de um desenvolvimento orgânico da obra.” Então, apesar do desenvolvimento de teorias de restrição, houve, paradoxalmente, uma flexibilização do uso do termo, tornando os sentidos do intertextual restritos, mas instáveis.
A segunda parte do livro de Tiphaine, “A memória da literatura”, apresenta uma tipologia baseada na distinção entre intertextualidade e hipertextualidade formulada por Genette. A citação, o plágio, a alusão e a referência pertenceriam ao primeiro grupo, devido ao caráter de co-presença, enquanto a paródia e o pastiche ao grupo do que é derivação. Uma terceira caracterização daria ênfase à heterogeneidade textual. Aqui se enquadrariam as operações de integração e colagem. O segundo ponto abordado nesta parte diz respeito à memória da escritura e da leitura propriamente dita, e reitera a idéia de que “tudo já foi dito”, apenas a disposição é nova, como revela a citação de Flaubert: “imaginei, lembrei-me e continuei”. Toda obra é eco e/ou presságio. (p. 78)
Por “memória lúdica”, a autora associa memória e espaço de jogo: “o autor se diverte com a tradição e semeia a dúvida sobre as fontes de sua própria cultura.” Lembra ainda que a certidão de nascimento do que chamamos romance deu-se com Dom Quixote, uma paródia que coloca a intertextualidade na origem do romance. Na “peneira do leitor”, quarto e último ponto incluído na “Memória da Literatura”, as referências intertextuais são o ponto de bifurcação de um caminho: segue-se a leitura ou desvia-se rumo ao texto de origem; e mais do que permitir essa escolha, elas revelam que a recepção não tem grades fronteiriças, a interpretação não é e não deve ser engessada, o que “permite às obras terem várias vidas diferentes.” (p. 92)
Em “Referência, Referencialidade, Relação”, a autora aponta duas propriedades opostas da literatura capazes de serem reunidas pela intertextualidade: falar do mundo e falar de si mesma. Em “Os signos do recorte”, volta a falar das colagens: Com o estatuto de pedaços intercalados, nem totalmente dentro, nem totalmente fora, as colagens permitem que se reflitam, no seio do texto literário, a ficção e o mundo. (...) Os espaços que isolam as colagens (...) separam os dois tipos de enunciados, obrigam o leitor a suspender sua leitura e a projetar-se num outro espaço, numa outra modalidade de discurso” (p. 106). Assim a referência funciona como ponto intermediário entre texto e mundo.
“O universo é uma biblioteca” lança a idéia de que a biblioteca exerce poder sobre o texto, e a intertextualidade é o meio pelo qual obras antigas são relançadas “num novo circuito de sentido”. O passado é reconsiderado através do novo assim como o presente é avaliado a partir do antigo.
Tiphaine Samoyault fecha sua reflexão trazendo a questão “transmissão ou influência?”, diferenciando a função da citação em dois momentos distintos – antiga e modernamente: “enquanto a citação clássica repousa sobre uma hierarquia, a citação moderna funciona no modo de interação” (p. 136). Para a autora, “as questões de anterioridade e de influência não contam mais.” O que passa a contar é o “efeito de decifração, na obra, de um brilho particular emanando do intertexto e que prolonga um no outro.” (p.139)
Resultado de colagens, este resumão não tem a pretensão de englobar todo o trabalho de Tiphaine Samoyault, apenas de facilitar futuras pesquisas, afinal trata-se de um livro muito rico em conceitos, e por isso, difícil de ser resumido.
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Paulo Silas 27/01/2017

O que é essa tal de intertextualidade? É sobre tal pergunta que as linhas do livro discorrem, buscando e explanando de maneira abrangente e criteriosa todas as questões que estão envoltas ao termo. Conforme consta na introdução da obra:

"o termo intertextualidade foi tão utilizado, definido, carregado de sentidos diferentes que se tornou uma noção ambígua do discurso literário; [...] atualmente, dá-se preferência a esses termos metafóricos, que assinalam de uma maneira menos técnica a presença de um texto em outro texto: tessitura, biblioteca, entrelaçamento, incorporação ou simplesmente diálogo"

Assim, a obra expõe as várias referências ao termo constante em seu título. Tem-se como exemplo a citação, a alusão, a paródia, o pastiche, as colagens, e outras formas como sendo a intertextualidade exposta. Todo texto se insere num outro texto. Nada nasce do nada. Todo texto possui relação com um texto anterior. A definição de como se dão as ligações entre os diversos tipos de textos também pode ser dada de várias formas. Isso porque sendo variadas as manifestações da intertextualidade, também assim são os liames que unem direta ou indiretamente os textos. Numa citação, por exemplo, a forma com a qual a referência é feita sobre o outro texto é explícita, pois ali se busca trazer um trecho sem alterações de outro texto e se indicando a fonte. Num plágio já não se tem isso, de modo que a obscuridade presente na inserção de um texto naquele dito como novo dificulta a constatação e análise da questão intertextual.

A obra visa (e alcança êxito) traçar uma síntese histórica e crítica em torno da ideia de intertextualidade. "O que é ela, com efeito, senão a memória que a literatura tem de si mesma?".
Após uma profunda análise nos meandros da literatura envolta ao tema, Samoyault conclui que a intertextualidade é muitas vezes mal amada devido à descoberta do "monstro de uma totalidade que atemoriza ou que faz dela a companheira servil de um estruturalismo abusivo, que isola definitivamente a literatura do mundo". Ainda, aponta-se a constatação de que "a memória da literatura atua em três níveis que não se recobrem jamais inteiramente: a memória trazida pelo texto, a memória do autor e a memória do leitor". É por essa junção de memórias que também se faz e percebe a intertextualidade, a qual "além de ser uma teoria ampla [...] torna-se [...] um método".

É um livro teórico que possui uma abordagem específica. Esclarecedor em alguns pontos acerca de questões presentes na literatura. O texto sempre vem acompanhado de algo anterior, e esse texto será base de acompanhamento para textos vindouros. É tudo um processo de reescrita daquilo que já foi dito, alterando-se e se transformando os textos com novas roupagens que "escondem" o real pelo aparente. A intertextualidade como ela é. Vale conferir!
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Jackson 02/03/2021

Escrever é reescrever
O romance moderno tem sua data de nascimento com Dom Quixote. O romance (moderno) teria assim nascido da paródia dos romances.

O que é isso senão...

Absorver citações e fazer delas seu próprio corpo literário. Ou seja isso é um dos fenômenos da intertextualidade
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