Resenhas - Ensinar História

Amós 02/11/2022

Resenha da obra “Ensinar História” da Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Carinelli
Ensinar História é um livro publicado em 2009 de autoria conjunta de Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli, duas pós-doutoras, sendo ambas um dos maiores nomes da área do Ensino de História do Brasil e que se dedicam a pensar a prática educacional da matéria em ambiente escolar. A pretensão da obra é pensar a prática do docente de História nas turmas de ensino básico frente ao grave esvaziamento dos sentidos pedagógicos da escola e da disciplina escolar História. Sua produção tem como alvo os professores que intentam melhorar qualitativamente suas aulas, ampliando as possibilidades do alunado desenvolver-se de maneira crítica e reflexiva numa época marcada pela desinformação e pelo esforço reacionário por uma escola bancária, conteudista e tecnicista.
As principais bibliografias utilizadas pelas autoras são Jörn Rüssen, Kátia Abud e Marc Ferro; todos esses importantíssimos nomes da historiografia contemporânea. O livro conta com doze capítulos, cada um deles divididos em cinco partes de forma cartesiana: Teoria sobre o tema do capítulo; debates em torno do assunto; sugestões de trabalhos e atividades; ampliação do debate e por último as bibliografias comentadas. Essa divisão é de grande valia, pois para além da teoria abstrata também se trabalha a sua aplicação no cotidiano escolar e dá acesso ao leitor a uma bibliografia mais específica, em caso deste ter maior interesse em alguma das fontes citadas.
Sobre a obra propriamente dita, se abordam doze aspectos importantes da disciplina escolar História e pensam de forma sistemática teoria e prática que auxiliem o docente em seu trabalho. Os capítulos sobre o trabalho com fontes, construção de conceitos históricos e sobre noções do tempo foram os que mais me chamaram atenção, pois, como professor, sempre tive dificuldade em trabalhar essas questões em sala devido ao alto grau de abstração necessário para a correta compreensão dos temas. Outros capítulos como o que se aborda a História Oral e o uso dos livros didáticos acredito que deveriam estar presente em todas as matrizes curriculares das licenciaturas de História país afora.
Porém, cabe destacar que muitas das propostas de atividade são completamente descoladas da realidade escolar da maioria dos docentes do Brasil, pois o ensino público é marcado profundamente pela falta de estrutura material e também ao pouco tempo curricular que a disciplina escolar História tem nas grades do ensino básico. Outra questão a se ressaltar é a falta de debate em torno das tecnologias de informação no Ensino de História. À época em que foi escrita, a realidade ainda era analógica, mas atualmente a geração que hoje se senta nos bancos escolares são majoritariamente nascidas e criadas na lógica de um mundo digital, mobile e conectado à internet.
Para além dos problemas citados anteriormente, a obra tem grande valor e serve aos docentes de História pensarem e atualizarem sua prática em sala de aula. A mim serviu principalmente para ampliar meu leque de opções de trabalho e repensá-lo para além da rotina que a educação bancária empurra todo professor em sua atividade profissional. Reafirmo, o livro é leitura indispensável e já tenho planos de relê-los de tempos em tempos para melhorar qualitativamente a minha prática.