Nath @biscoito.esperto 04/05/2017Meu primeiro Murakami(Eu já li este livro três vezes e há uma resenha atualizada no final).
Resenha de 2017:
Aviso: esse é o primeiro o único livro do Murakami que li até o momento, então não espere uma resenha comparando este livro com outras obras do autor. Digo isso pois li muitas resenhas de várias pessoas dizendo que esse livro é parecido demais com outras publicações anteriores do autor, e dizendo que o livro é o mais fraco dele, mas como essa foi minha primeira experiência, vou simplesmente dizer o que achei do livro como unidade.
Minha Querida Sputnik conta a história de Sumire, através dos olhos de um protagonista sem nome, um professor do ensino fundamental que estudou com Sumire na faculdade e mantém uma amizade próxima com ela. Enfim, nosso narrador conta, da pura perspectiva de expectador nada imparcial, a primeira aventura amorosa de sua amiga. Nosso narrador nos revela logo de início que sempre foi atraído sexualmente por Sumire, mas suas investidas frustradas ganham sentido quando ele descobre que Sumire é apaixonada por nada mais, nada menos que uma mulher.
Mas ser lésbica não é a única característica que define Sumire, e nem chega a ser uma das mais interessantes. Sumire é filha de um pai viúvo, tem um irmão mais novo e sua maior motivação na vida sempre foi ser romancista. Ela escreve muito, e escreve todos os dias, mas até hoje não acredita ter escrito nada de interessante. Ela é, no geral, uma pessoa muito excêntrica.
O fato é que, numa festa organizada pelo seu pai, Sumire conhece uma mulher mais velha, empresária, chamada Miu. Miu é uma mulher muito bonita a inteligente, e Sumire logo se apaixona. Sem saber disso, Miu convida Sumire para ser sua secretária pessoal, e as duas se aproximam com o tempo.
Num belo dia, Sumire e Miu viajam juntas para a Europa, e nosso protagonista é acordado numa madrugada por Mil, por telefone, que diz que ele precisa sair do Japão e ir para a Grécia imediatamente, pois Sumire desapareceu.
O livro não foi nada como imaginei que seria. Eu imaginava um romance lésbico, mas fui surpreendida com a narrativa de um homem de fora do casal principal. Esperava um livro sobre auto descoberta sexual, mas fui recebida por um mistério. Esperava um livro com uma história desse mundo, mas essa definitivamente veio de outro. E eu gostei dessas surpresas, que tornaram o livro muito especial e único.
O melhor do livro, para mim, foi a narrativa do autor. Claro que as personagens são bem construídas, e os diálogos são todos interessantíssimos, e o plot em si é diferente de tudo o que já li, mas a narrativa do autor era quase como se fosse poesia em forma de prosa. Tudo o que ele escreve é fácil de ler, mas não necessariamente fácil de digerir. Ele não tem medo de utilizar palavras sexuais, de usar palavras fortes, e com frequência parece saber quais são as melhores palavras para cada situação.
Não quero falar mais do que isso, pois esse livro me surpreendeu muito e eu espero que outras pessoas também tenham essa experiência. O livro é muito bom, principalmente por ter sido meu primeiro contato com o autor, e eu o recomendo a todos que tenham curiosidade de conhecer o Murakami por uma obra mais curta.
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Resenha de 2023:
"Mas amanhã serei uma pessoa diferente, nunca mais serei quem eu fui. Alguma coisa no interior se extingiu, desapareceu. Este é o último dia da pessoa que sou agora. Quando amanhecer, a pessoa que sou não estará mais aqui. Outro ocupará este corpo".
"Minha querida Sputnik" foi o primeiro livro que eu li do Murakami. Comecei a leitura no dia quatro de abril de 2017 e terminei no dia 15/04/17, três dias antes do meu aniversário. Ou seja, eu li meu primeiro Murakami aos 19 anos.
Meu Deus... Quem era a Nathalia de 19 anos? Alguma coisa dela resta na Nathalia atual, que acaba de completar 26? Eu sei que existe algo essencial que permanece, alguma força particular que estava lá quando nasci e estará lá quando eu morrer. Mesmo que eu mude o tempo todo, algo dentro de mim me conecta a quem eu era ontem e a quem serei amanhã.
Quando leu este livro pela primeira vez, a Nathalia de 19 anos escreveu: "O melhor do livro, para mim, foi a narrativa do autor. Claro que as personagens são bem construídas, e os diálogos são todos interessantíssimos, e o plot em si é diferente de tudo o que já li, mas a narrativa do autor era quase como se fosse poesia em forma de prosa. Tudo o que ele escreve é fácil de ler, mas não necessariamente fácil de digerir. Ele não tem medo de utilizar palavras sexuais, de usar palavras fortes, e com frequência parece saber quais são as melhores palavras para cada situação".
Ao ler este livro pela terceira vez, a Nathalia de 26 anos não pode evitar em dizer: uma vez que você vê a lua com cor de mofo, você não pode mais voltar a ser quem era antes.
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