Phelipe Guilherme Maciel 09/06/2017Vale a pena ter olhos e ouvidos bem abertos para os ensinamentos ainda atuais do Prêmio Nobel da Paz de 1964.Este livro merece resenha. Luther King é sem dúvidas um dos maiores líderes do Séc. XX. Este homem liberal, visionário e adepto da não-violência lutava contra o racismo abraçando a ideia de que brancos e negros são iguais, que merecem o mesmo respeito, a mesma dignidade. Luther King nunca abraçou o comunismo ou o socialismo como ideia de solução para as desigualdades. Pelo contrário, lutava contra. Também não defendia o capitalismo opressor. Defendia a livre iniciativa do homem, A não-violência, a convivência pacífica e o cumprimento estrito da Constituição Americana, além da Soberania Nacional.
Martin Luther King não foi um revolucionário violento, nem reacionário, e nesse ponto convergia gravemente com Malcolm X, que tinha visões bem conflitantes que as de King, mesmo ambos lutando pelo mesmo ideal.
Este livro é um oásis em tempos estranhos. Estranhos pois mesmo 50 anos após seu assassinato, o seu Sonho ainda não se concretizou. Tornou-se mais claro, mais palpável, mas está longe de se atingir ainda.
E digo-lhes hoje, meus amigos, mesmo diante das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho, um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de sua crença: ‘Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados iguais’ (fragmento da Constituição americana).
Eu tenho um sonho de que um dia, nas encostas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos sentarão ao lado dos filhos dos antigos senhores, à mesa de fraternidade.
Eu tenho um sonho de que um dia até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Hoje, eu tenho um sonho.” (p. 73-76)
Martin lutou durante anos, e viu o topo da montanha. Seu ultimo discurso, um dia antes de ser assassinado, parece ser uma visão clara de que sua missão havia terminado. É assombroso:
"Estou encantado de vê-los todos aqui nesta noite, apesar do alerta de tempestade. Isso revela a sua determinação para prosseguir, sob quaisquer circunstâncias. Algo está acontecendo em Menphis, algo está acontecendo no mundo. [...]
Se algo não for feito com urgência para tirar os povos de cor de todo o mundo de seus longos anos de pobreza, longos anos de dor e negligência, todo o mundo estará condenado. Por isso, estou muito feliz que Deus tenha permitido que eu viva nesta época, para testemunhar esses acontecimentos. Estou feliz que Ele tenha me permitido estar em Menphis.
Precisamos nos manter unidos e manter a unidade. Vocês sabem, sempre que o faraó desejava prolongar o período de escravidão no Egito, ele usava a sua fórmula favorita. Qual era? Ele mantinha os escravos em luta entre si. Mas sempre que os escravos se uniam, algo acontecia na corte do faraó e ele não podia manter os escravos no cativeiro. A união dos escravos foi o primeiro passo para a saída do cativeiro. Hoje, fiquemos unidos.
As questões devem ser mantidas em seus devidos lugares, e a questão agora é a injustiça. A questão é a recusa de Menphis em ser uma cidade justa e honesta ao lidar com os servidores da limpeza pública. [...]
Agora marcharemos novamente e devemos marchar novamente a fim de pôr essa questão em seu devido lugar. Faremos com que todos vejam que há aqui 1.300 filhos de Deus que sofrem, atravessando noites escuras e sombrias, pensando como tudo isso vai acabar. Eis a questão. E precisamos dizer à nação: sabemos como isso vai terminar. Pois, quando as pessoas desejam se sacrificar por aquilo que é justo, elas só se encontrarão com a vitória. [...]
Devemos lutar até o fim. Nada poderia ser mais trágico do que pararmos a esta altura em Menphis. Precisamos seguir até o fim. E, durante a nossa marcha, vocês precisam estar lá. Se necessário, faltem ao trabalho; se necessário, faltem à escola; mas estejam lá. Preocupem-se com o seu irmão. Vocês podem não estar em greve, mas venceremos todos juntos ou juntos seremos derrotados. Precisamos desenvolver um tipo perigoso de altruísmo. [...]
Sempre que homens e mulheres ficam de pé, eles vão a algum lugar, pois ninguém poderá montar-lhes as costas a menos que se curvem. [...]
Não sei o que acontecerá agora. Dias difíceis virão. Mas não me importo. Pois eu estive no topo da montanha. E não me importo. Como qualquer pessoa, gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Mas não me preocupo com isso agora. Apenas desejo obedecer aos desígnios de Deus. E Ele me levou ao topo da montanha, olhei ao redor e contemplei a Terra Prometida. Posso não alcançá-la, mas quero que saibam, que nós, como povo, chegaremos à Terra Prometida. Estou tão feliz; não me preocupo com nada; não temo homem algum. Meus olhos viram a glória da presença do Senhor." (p. 163-171)
Este livro deve ser lido por todos. Os negros, para entender que a luta contra o racismo e contra as injustiças do passado não devem ser feitas com ódio no peito. Não existe "sambar no seu racismo", não existe "todo branco é racista". Discursos generalistas e abusivos como estes vão contra a luta do homem que mais fez pela raça negra no século XX. Devemos seguir os ideais deste homem.
Aos brancos, é interessante ler Martin Luther King, para que tenha sempre fresco na memória que os erros do passado ainda ocorrem hoje em maior ou menor escala, e que precisamos da ajuda deles, para tornar o mundo um local mais fraternal.
Eu tenho um sonho, de que um dia as palavras de Martin Luther King poderão enfim, tornar-se história. Hoje, elas ainda reverberam muito forte, em resistência pacífica.