O Zen e a Arte da Escrita

O Zen e a Arte da Escrita Ray Bradbury




Resenhas - O Zen e a Arte da Escrita


44 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3


Cesar525 07/11/2021

Escrita como paixão e verdade
Livro em forma de curtos e super acessíveis ensaios sobre a escrita, nos quais o autor defende a todo momento o ato de escrever como um ato de paixão e de verdade (sobretudo a verdade sobre si mesmo enquanto escritor).

E apesar de não ser um manual sobre como escrever, há sim algumas dicas/reflexões bem interessantes. Algumas são mais conceituais, tipo:

- escrever é (ou deveria ser, né) sobre prazer e entusiasmo, mesmo que nascidos de nossa raiva e preconceitos;
- escrever é um exercício de espontaneidade, com liberdade de acesso ao 'sótão' da nossa consciência;
- o que faz um escritor é a escrita, não o mercado ou o reconhecimento;

Outras são mais práticas, tipo:

- histórias devem conter tensões armadas, intencionalmente, para explodir nas mãos do leitor;
- a quantidade faz a qualidade, então escreva por hábito, por rotina, até superar a dificuldade típica de quando é preciso 'entrar no clima' toda vez que se senta para escrever.

E algumas baseadas na longa experiência do autor:

- inspiração vem do estoque do que lemos, vivemos e observamos;
- um fato marcante vivido hoje pode, somente daqui uns bons anos, 'renascer' como uma história a ser escrita;
- a escrita flui quando escrevemos com respeito a nossa individualidade, sem pose, sem 'querer ser x ou y'.

Fica evidente que a pegada do Bradbury com a escrita é bastante apaixonada (idealizada, diriam alguns), então os ensaios aqui contidos têm um quê bastante motivacional. Não que isso seja um demérito, mas é algo que indica as limitações dos ensaios, inclusive porque o tempo de hoje é absurdamente diferente do tempo em que os ensaios foram escritos - até onde podemos escrever somente guiados pela paixão genuína e individual quando estamos imersos num contexto em que para tudo, literatura inclusive, é preciso dum automarketing visando curtidas e compartilhamentos nas redes sociais?

No mais, um livro interessante para os amantes da escrita - talvez até da literatura como um todo -, e, claro, para os fãs do autor.
comentários(0)comente



Marina 03/01/2022

Os primeiros capítulos do livro são todos sobre o processo de escrever. O autor nos conta todo seu processo de escrita, no início da sua carreira, incluindo as técnicas de escrita que criou e aperfeiçoou, técnicas que usou por muito tempo para lhe dar ideias de contos e histórias. Eu resolvi testar algumas coisas que o autor fala, como por exemplo, fazer uma lista de palavras e temas, e escrever um conto baseado nas ideias que as palavras lhe trazem. Funcionou, até certo ponto. Escrevi um conto com algumas ideias que surgiram daí, e foi divertido. Outra coisa que o autor fala muito nos primeiros capítulos é sobre escrever com entusiasmo, e você percebe que esse entusiasmo vem de situações que o autor viveu. A maioria dos seus contos vem de situações e cenas que ele vivenciou, e que acabaram se transformando em contos, fantasia misturado a realidade. Perceber como o autor conseguia transformar realidade em fantasia foi a coisa mais interessante no livro. De toda a leitura, talvez seja essa é a lição que eu vou levar para a vida: qualquer coisa pode virar uma boa história, se você estiver atento o suficiente para perceber isso. Eu poderia ter parado a leitura aí, mas infelizmente continuei até o final.

O Zen e a arte da escrita começa inicialmente falando do processo de escrita, das lágrimas e risos que um escritor passa durante o processo de escrita, até se tornar uma desculpa para o autor falar das histórias que escreveu. Eu não conheço o autor, e se ele for realmente bom como diz ser, até entendo que ele fale muito de si mesmo e que saiba o quanto é bom, mas sinceramente, depois dos primeiros capítulos o livro começou a parecer mais como massagem de EGO do que como escrita. O tempo todo o autor fala de si mesmo, de como ele é um cara de sorte, especial e diferente dos outros, e de como nasceu cheio de criatividade e inspiração. Acreditem em mim, foram poucas as páginas em que ele não falou de si ou dos seus contos, dos lugares em que viveu e de como absorveu tudo isso e transformou nas histórias que vendeu. Chega a ser cansativo, para não dizer ridículo, o quanto de vaidade o autor colocou no livro. O autor se colocou em um pedestal, tive dúvidas se estava lendo um livro de um ser humano real ou de algum deus mitológico. Acredito que, para cinco acertos e qualidades suas que você conta, ao menos um erro e um defeito você tem de contar também, para não soar narcisista ou arrogante.

Embora tenha detestado o fato do livro ser uma espécie de autobiografia disfarçada, tenho de admitir que o autor escreve muito bem. Você tem a sensação de estar em uma conversa com o autor o tempo todo, embora seja uma conversa nada agradável. Sabe aquelas pessoas que só sabem falar de si? Você se sente como se estivesse conversando com uma (toda a raiva e tédio inclusos).

E o Zen, onde ele se encaixa nisso tudo? Bom, não tem Zen. O título é apelativo, o autor colocou apenas para atrair a atenção do leitor (e ele mesmo admitiu isso!). O Zen aparece em um pequeno capítulo, onde o autor força completamente a barra tentando ligar tudo o que ele está falando ao Zen, que na verdade a ligação que está tentando fazer é com o livro de Eugen Herrigel, "A arte cavalheiresca do arqueiro Zen", que no livro está traduzido como "O zen na arte da arquearia". Já li o livro de Eugen e posso dizer que nada tem a ver com essa masturbação massagem de ego que o autor publicou. Me senti completamente enganada ao ler o livro, o autor critica escritores que escrevem apenas por dinheiro, dizendo que deveriam escrever por amor, mas pública um livro apelativo que mais parece aqueles com formulas magicas do tipo "como conquistar um amor em três passos". Decepção total, só não digo ter sido completamente perda de tempo porque os primeiros capítulos me deram algumas lições que eu acredito serem úteis para mim.

site: https://marina-menezes.blogspot.com/2017/08/resenha-o-zen-e-arte-da-escrita.html
comentários(0)comente



Rute31 03/02/2022

O Zen e a Arte da Escrita
Gosto muito dos escritos de Ray Bradbury. Conheci o autor através de seu clássico Fahrenheit 451, há muitos anos, e depois, quando li seus contos, ele se tornou um de meus autores favoritos e uma referência na minha escrita.

Nos ensaios desse livro, Ray fala sobre o ofício de escrever, sobre criatividade, sobre o que ele chama de "alimentar a musa", dando exemplos de sua própria vida e carreira (não muitos, na verdade, não chega a ser bem um livro de memórias, pro meu desgosto hahaha)

Recomendo muito essa leitura pra quem gosta do autor, para fãs de ficção científica e para quem escreve contos. É uma leitura imperdível!
comentários(0)comente



Matheus.Correa 08/05/2022

Obrigado, Ray Bradbury
Eu sempre me dediquei a ser um grande escritor e decidi me tornar um leitor de toda e qualquer literatura. Novas narrativas, condições e universos. Escritores que usavam arquétipos, que com a sua engenhosidade criavam obras maravilhosas e sequências fenomenais. Quanto escritores que criavam um livro mais introspectivo, mais micro. Mais intuitivo. E consegui encontrar o sublime na simplicidade e a simplicidade no sublime. Escrever é terapêutico e aqui Ray deixa bem claro isso. Quando Bradbury diz que você tem que amar escrever para que sintam a sua obra, é verdade. E isso serve para qualquer profissão. Quando você prensa seus dedos em uma máquina de escrever ou em um computador, você assume para si a responsabilidade de ser a válvula de escape de muita gente, e, para fazer algo com tanta responsabilidade, tem que ser feito com muito amor. Por isso meu sincero agradecimento ao grande escritor Ray Bradbury, ao crítico literário que ele demonstrou ser e o entusiasta que as suas palavras afirmaram. É prazeroso ver a simplicidade daquele que é um dos melhores escritores de ficção especulativa no mundo. E ver os conselhos e saber sobre algumas curiosidades, nesse pequeno livro, é gratificante. Se você é escritor. Eu recomendo com força.
comentários(0)comente



Thalia242 06/03/2023

Uma leitura incrível
O Zen E A Arte Da Escrita é um livro que nos deixa entusiasmados para começar a escrever alguma coisa. O autor consegue narrar muito bem sobre a sua vida e como ele começou a se entender como escritor.

O livro é dividido em algumas partes, com capítulos escritos em diferentes anos da vida do autor, mas, que juntos conseguem criar uma bela narrativa. Amei muito tudo o que foi escrito. Ray Bradbury sabe como escrever e sabe do poder das palavras.

O livro é uma mistura de coisas: ele conta sobre a vida pessoal dele, sobre o início do processo de escrita e sobre como ele deixava fluir as palavras quando já sabia a história. Ele descreve muitos acontecimentos da sua vida e como eles influenciaram suas histórias.

Não esperem um livro com muitas dicas sobre escrever um livro ou sobre o que fazer para criar histórias. O autor fala sobre o processo dele e como isso pode nos ajudar também, mas, que devemos deixar as palavras e as histórias fluírem do jeito delas. Gostei de como ele foi honesto, já que muitos outros autores escrevem sobre o processo de escrita, mas, as coisas que lemos são tudo iguais. Ele fala que no começo da carreira as semelhanças com autores que gostamos pode ser mais nítida, pois escrevemos o que lemos, vimos e vivemos; ele fala sobre as dificuldades de criar um enredo e então anos depois ele volta e não consegue mais parar.

Enfim, eu recomendo muito o livro. Seja para autores ou apenas leitores, é um livro muito rico, seja em palavras, vivências ou experiências.
comentários(0)comente



Bruno1204 09/05/2023

Ajuda a ter um panorama geral de como encaminhar algo que queria escrever. Leitura fácil e direta. Li bem rápido.
comentários(0)comente



Juliafernds 14/06/2023

3,5 por falta de um 3,7
Vou avisar logo. Se você pretende ler este livro esperando ser um guia, um manual de escrita, não leia. Ou leia sabendo que não é o caso, ok?!

"O zen e a arte da escrita" é um compilado de ensaios escritos pelo Bradbury ao longo de alguns anos; ensaios sobre seu processo criativo e a sua história como escritor. Creio que é um material muito bacana pra quem é fã do autor, ou pelo menos já teve algum contato com alguma de suas obras. No meu caso, eu ainda não li nada do Bradbury. Ainda assim, foi uma experiência legal saber dos seus insights, ideias, modus operandi etc.

Se você é escritor, encontrará aqui alguns bons conselhos. Outros são mais batidos (como "escreva todos os dias". Se você é escritor, já deveria saber disso). Achei uma leitura bacana, nada surreal. Confesso que a partir dos 60/70% do livro (li pelo Kindle) comecei a achar os textos mais chatinhos.

Resumindo: é um livro legal.
comentários(0)comente



Lorena 03/09/2023

Grandes pensamentos de um grande escritor
Sempre admirei Ray Bradbury enquanto autor, e fiquei muito curiosa para ler os pensamentos dele sobre escrita e processos criativos. Para um autor de ficção cientifica e especulativa, são conselhos e pontos de vista bem realistas e com uma pitada de bom humor e sarcasmo típicos dele. Podemos aprender muito sobre nosso olhar do ofício de escritor e da própria vida com um autor que está sempre séculos à frente e ao mesmo tempo bem fincado na realidade.

Inspirador e necessário.
comentários(0)comente



Biatunix 09/03/2024

Bom, mas repetitivo
Para o Bradbury em si, a nota é 5. Mas para a edição do livro, quem cuidou dos trechos, nota 3,5.

O livro é uma junção de ensaios de Bradbury, ao longo de sua carreira como escritor, que trás suas reflexões e pensamentos e que continuam coerentes e fazendo sentido para ele ao longos dos anos.

Mas, para nós leitores, que estamos lendo o livro, alguns assuntos ficam repetitivos, demorei pra ler o livro, porque quando parecia que ele estava indo pra frente, o próximo ensaio falava basicamente a MESMA coisa do ensaio anterior, com as mesmas referências e contos descritos, o que achei bem cansativo.

Em geral, é questão de abstrair, de pegar o que é relevante para você, como el qualquer livro. Então, absorvi o que pra mim fez mais sentido.
comentários(0)comente



Cla Motta 11/12/2016

Que leveza!
Livro leve, repleto de provocações e pronto para te fazer sair e escrever! Vale cada palavra!
comentários(0)comente



Vilto 30/10/2012

Resenha: O zen e a arte da escrita – Ray Bradbury
Para quem não é fã ou ainda não conhece a obra de Ray Bradbury, O zen e arte da escrita é um jantar de gala, daqueles que você fica com a consciência pesada de ter comido tanto. Já para quem já é fã do escritor, o livro explora meandros históricos do grande “B”, mostrando a criança-adolescente-adulto notável que ele foi. Contudo, há ainda uma terceira classe de pessoas que podem/devem se interessar por este livro, quem deseja aprender a escrever ficção.

O livro é uma coletânea de ensaios, que Bradbury escreveu ao longo de sua proeminente carreira como: contista, romancista, poeta e roteirista. É possível sentir a vitalidade do escritor em cada linha pulsante do livro.

“Toda manhã, pulo da cama e piso num campo minado. O campo minado sou eu. Depois da explosão, passo o resto do dia juntando os pedaços. Agora é sua vez. Pule!”.

Bradbury vai nos familiarizando com sua trajetória, como no momento em que começou a receber os primeiros reconhecimentos depois de dez anos escrevendo e viu o quanto isso foi importante para ele, pois “... você olha e vê ao redor um conjunto de noções defendidas por outros escritores, outros intelectuais que fazem você corar de culpa”. Mesmo que ele não escrevesse por reconhecimento; este reconhecimento foi indispensável.

A originalidade do escritor é presente até mesmo em como ele explica o seu processo criativo; pois segundo ele, após criar um situação inusitada, imagina algum personagem e simplesmente o solta; então ele sai correndo atrás do personagem e digitando tudo que ele faz; e no final tem uma história.

No ensaio que dá título ao livro, O zen e a arte da escrita, o autor expõe a sua opinião sobre exercer a profissão de escritor; mas ele considera importante que quem deseja escrever, encare o desafio; “... vamos dar uma boa olhada nesta palavra francamente repugnante, ‘trabalho’. Ela é, acima de tudo, a palavra em torno da qual a sua carreira vai gira ao longo da vida”.

Finalizando, o livro não esconde as dificuldades que alguém pode encontrar em querer ser um escritor; porém, ao mesmo tempo, mostra um apaixonado pelas palavras. É um encontro entre a vida e a arte.

Deixo um dos meus trechos preferidos do livro:

“Se algo é ensinado aqui, é simplesmente o relato de vida de alguém que começou em algum lugar – e seguiu em frente. Nunca planejei muito meu caminho pela vida e, sim, fiz coisas e descobri o que elas eram e o que eu era depois de tê-las feito”.

Confira mais resenhas e novidades sobre literatura no blog Homo Literatus, acesse: www.homoliteratus.com
comentários(0)comente



Leonardo 18/05/2013

Pra quem tem amor pela literatura
Ray Bradbury foi um escritor norte-americano nascido em 1920 e falecido em junho do ano passado. Escreveu muito ao longo de toda a sua vida. É autor de diversos romances e uma grande quantidade de contos. Tem um lugar cativo na minha estante e no meu coração por causa de um livro, justamente a sua obra mais famosa: Fahrenheit 451, sobre o qual escrevi aqui. Se ele só tivesse escrito esse livro, certamente ainda seria cultuado em todo o mundo pela homenagem impressionante que ele presta à literatura. Acontece que ele não escreveu só isso, como deixei claro no começo. Desde os doze anos ele escrevia mil a dois mil caracteres todos os dias. Produziu um sem número de contos, praticou a escrita como um escultor trabalha o mármore. Errando, aperfeiçoando, “desperdiçando” caríssimas pedras de mármore de Carrara até conseguir desvelar de um bloco de pedra uma escultura que possa ser chamada de arte e que provoque um involuntário “Ohhhh!!!” num passante desavisado.

Ele conta isso em O Zen e a Arte da Escrita, uma coleção de artigos seus sobre o ato de escrever, sobre onde encontrar inspiração, como aperfeiçoar a técnica e, principalmente, como deixar espaço para que a criatividade apareça e as boas histórias possam ser escritas.

São nove artigos em que Bradbury dá conselhos, relata suas próprias experiências e revela seu grande amor pela literatura. Destaco o primeiro, A Alegria da Escrita, Bêbado e no comando de uma bicicleta, Investindo moedas, em que ele fala dos dez centavos que ele pagava por meia hora numa máquina de escrever da biblioteca para escrever Fahrenheit 451, O Zen e a Arte da Escrita… Na verdade, não dá para indicar alguns. Todos os artigos são ótimos, imperdíveis.

Logo no começo, em A Alegria da Escrita, Ray Bradbury nos ensina:

“É preciso se embriagar da escrita para que a realidade não o destrua. Escrever oferece exatamente as receitas adequadas de verdade, vida, realidade que você é capaz de comer, beber e digerir sem sofrer de hiperventilação ou agonizar como um peixe fora da água em sua cama.”

Então o escritor afirma que se você pretende escrever, então pratique, pratique muito. Escreva todos os dias. Regularidade é essencial. Quantidade é essencial para aperfeiçoar a técnica, para que você não pare nos mecanismos da escrita, no domínio da língua e possa transportar a história que habita a sua mente sem restrições para seu caderno. Ele diz então:

“Nas minhas jornadas, aprendi que fico ansioso se passo um dia sem escrever. Dois dias, começo a tremer. Três, suspeito de demência. Quatro, sou um porco chafurdando na lama. Uma hora de escrita é como um tônico. Fico em pé, correndo em círculos e gritando por um par de sapatos limpos.”

No artigo seguinte, outra valiosa lição, que merece uma reprodução um pouco mais completa:

“Corra, pare. Eis a lição dos lagartos. Observe a maioria das criaturas e você verá o mesmo. corra, pule, congele. Com a habilidade de se mover como um cílio, estalar como um chicote, desaparecer como o vapor, aqui neste instante, lá no outro, a vida cobre a terra. E, quando a vida não está correndo para escapar, está fingindo de estátua para fazer o mesmo. veja o beija-flor aqui, não mais aqui. Como o pensamento que surge e desaparece, como o vapor do verão, a limpeza de uma garganta cósmica, a queda de uma folha. E, onde estavam – um suspiro.

O que os escritores podem aprender com lagartos e pássaros? Rapidez, certamente. Quanto mais rápido você se expressar, quanto mais prontamente escrever, mais honesto será. Na hesitação está o pensamento. Na postergação surge o esforço por um estilo, em vez do mergulho na verdade, que é o único estilo que vale uma queda mortal ou uma caçada ao tigre.

Entre fugas e voos, o que há? Seja um camaleão, mimetize a paisagem. Seja uma pedra, deite na poeira, permaneça na água da chuva da calha inundada há muito tempo do lado de fora da janela de seus avós. Seja um vinho de dente-de-leão na garrafa de ketchup tampada e exibindo uma inscrição a tinta: “Manhã de junho, primeiro dia de verão, 1923. Verão de 1926, fogos de artifício. 1927: último dia de verão. Último dos dentes-de-leão. 1º de outubro.” E, disso tudo, extraia o seu primeiro sucesso como escritor, uma história de vinte dólares, no Weird Tales”.

Há outras lições dadas pelo mestre. Uma delas é fundamental para quem, como eu, persegue a “literatura de alto nível”. Não se envergonhe de gostar de Buck Rogers. Não se envergonhe de gostar de ler o Pato Donald, eu diria para meu irmão. Não se envergonhe de gostar de A Guerra dos Tronos ou de O Nome do Vento ou de Neil Gaiman ou de quem quer que seja. Corrigindo: há alguns casos em que você deve se envergonhar sim, mas nem vou me deter aqui.

Outra lição, e essa eu não tenho seguido:

“Leia poesia todos os dias de sua vida. Poesia é bom porque exercita músculos que não são utilizados sempre. Poesia expande os sentidos e os mantém em forma. Ela mantém você consciente de seu nariz, olho, ouvido, língua, mão. E, acima de tudo, a poesia é uma metáfora compacta ou um sorriso. (…) Que poesia? Qualquer uma que arrepie os pelos dos seus braços. Não se esforce demais; vá com calma. Ao longo dos anos, você vai compreender, virar-se bem e ultrapassar T. S. Eliot no caminho para novas pastagens. Você não consegue compreender Dylan Thomas? Mas seus gânglios, sua sabedoria secreta e toda a sua criança ainda por nascer o compreendem. Leia-o, assim como quem lê um cavalo com os olhos, liberte-se e cavalgue por um campo verdejante infinito no dia de muito vento.”

Talvez a lição mais insistente de Ray Bradbury seja uma técnica pessoal que ele desenvolveu e que o ajudou a escrever bem: fazer listas de palavras por meio de um processo semelhante a um brainstorm, a uma tempestade de ideias. Pensar em um objeto e a partir daquele objeto, vasculhar sua memória e buscar mais referências. Outros objetos, sentimentos, pessoas. Ele conta que sempre fez listas. Muitos dos seus contos e mesmo dos seus romances nasceram assim.

Mais uma lição, essa na jugular de quem escreve:

“Eis aqui a minha teoria. Nós escritores estamos aí para o seguinte: construímos tensões sobre o riso, então dê permissão e o riso vem. Construímos tensões sobre a dor e, por fim, diga, chore e torça para ver o seu público em lágrimas. Construímos sobre a violência, acenda o pavio e corra. Construímos estranhas tensões de amor, em que tantas outras tensões se misturam para ser modificadas e transcendidas, e permita a fruição delas na mente do público. Construímos tensões, especialmente hoje, sobre doenças e então, se formos bons o suficiente, suficientemente talentosos, elas permitem que o nosso público fique doente. (…)

Se eu fosse dar conselhos aos novos escritores, se fosse dar conselhos ao novo escritor em mim mesmo, indo ao teatro do Absurdo, do Quase-absurdo, ao teatro das Ideias, a qualquer-tipo-de-teatro, enfim, aconselharia o seguinte: não me conte piadas insípidas. Rirei da sua recusa em deixar-me rir.

Não construa para mim tensão em relação a lágrimas e recuse as minhas lamentações. Vou buscar melhores muros de lamentação.

Não cerre os meus punhos por mim e esconda o alvo. Posso acertar você, em vez dele.

Acima de tudo, não me cause náusea, a menos que você me mostre o caminho para o convés do navio.

Porque, por favor, compreenda que, se você me envenenar, devo ficar doente.”

O Zen e a Arte da Escrita me deixou com vontade de escrever cem ou duzentas palavras todos os dias.

Também me deixou com vontade de escrever contos.

E com vontade de ler As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury.

O Zen e a Arte da Escrita é altamente recomendável para qualquer um que ame a literatura. E imprescindível para quem escreve ou pretende escrever.
comentários(0)comente



Lucalilo 06/06/2013

A magia de Bradbury
"O zen e a arte da escrita" - que livro SENSACIONAL!
Ray Bradbury fala de sua vida como escritor, mostrando a maneira como transformou as impressões que teve durante a vida em histórias que fizeram sucesso em seu seguimento de ficção cientifica no século XXI.
Ele me fez ver que estava fazendo tudo errado. Escrever não é apenas sentar na frente de sua máquina e digitar uma ideia que veio a cabeça. Escrever exige trabalho, suor, exige a alma do escritor do papel.
Recomendo a todos que já escrevem, a quem quer escrever, a quem acabou de começar e até mesmo a quem só aprecia a literatura. O zen e a arte da escrita nos mostra que trabalho não é algo que deve ser feito buscando fama e dinheiro, é algo que deve ser feito para realização própria, e assim você alcança o topo do mundo com satisfação.
comentários(0)comente



regifreitas 01/02/2014

Resenha no blog abaixo:

http://vialittera.blogspot.com.br/2014/01/o-zen-e-arte-da-escrita-ray-bradbury.html
comentários(0)comente



Gabriel Leite 06/10/2014

Ainda bem que não me deixei levar pelo título pouco convidativo, porque O Zen e a Arte da Escrita, além de me apresentar esse autor sensacional e cheio de sensibilidade que é o Bradbury, serviu como excelente fonte de inspiração, a qual pretendo recorrer sempre que precisar de um empurrãozinho em direção à 'máquina'.
comentários(0)comente



44 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR