Marina 03/01/2022Os primeiros capítulos do livro são todos sobre o processo de escrever. O autor nos conta todo seu processo de escrita, no início da sua carreira, incluindo as técnicas de escrita que criou e aperfeiçoou, técnicas que usou por muito tempo para lhe dar ideias de contos e histórias. Eu resolvi testar algumas coisas que o autor fala, como por exemplo, fazer uma lista de palavras e temas, e escrever um conto baseado nas ideias que as palavras lhe trazem. Funcionou, até certo ponto. Escrevi um conto com algumas ideias que surgiram daí, e foi divertido. Outra coisa que o autor fala muito nos primeiros capítulos é sobre escrever com entusiasmo, e você percebe que esse entusiasmo vem de situações que o autor viveu. A maioria dos seus contos vem de situações e cenas que ele vivenciou, e que acabaram se transformando em contos, fantasia misturado a realidade. Perceber como o autor conseguia transformar realidade em fantasia foi a coisa mais interessante no livro. De toda a leitura, talvez seja essa é a lição que eu vou levar para a vida: qualquer coisa pode virar uma boa história, se você estiver atento o suficiente para perceber isso. Eu poderia ter parado a leitura aí, mas infelizmente continuei até o final.
O Zen e a arte da escrita começa inicialmente falando do processo de escrita, das lágrimas e risos que um escritor passa durante o processo de escrita, até se tornar uma desculpa para o autor falar das histórias que escreveu. Eu não conheço o autor, e se ele for realmente bom como diz ser, até entendo que ele fale muito de si mesmo e que saiba o quanto é bom, mas sinceramente, depois dos primeiros capítulos o livro começou a parecer mais como massagem de EGO do que como escrita. O tempo todo o autor fala de si mesmo, de como ele é um cara de sorte, especial e diferente dos outros, e de como nasceu cheio de criatividade e inspiração. Acreditem em mim, foram poucas as páginas em que ele não falou de si ou dos seus contos, dos lugares em que viveu e de como absorveu tudo isso e transformou nas histórias que vendeu. Chega a ser cansativo, para não dizer ridículo, o quanto de vaidade o autor colocou no livro. O autor se colocou em um pedestal, tive dúvidas se estava lendo um livro de um ser humano real ou de algum deus mitológico. Acredito que, para cinco acertos e qualidades suas que você conta, ao menos um erro e um defeito você tem de contar também, para não soar narcisista ou arrogante.
Embora tenha detestado o fato do livro ser uma espécie de autobiografia disfarçada, tenho de admitir que o autor escreve muito bem. Você tem a sensação de estar em uma conversa com o autor o tempo todo, embora seja uma conversa nada agradável. Sabe aquelas pessoas que só sabem falar de si? Você se sente como se estivesse conversando com uma (toda a raiva e tédio inclusos).
E o Zen, onde ele se encaixa nisso tudo? Bom, não tem Zen. O título é apelativo, o autor colocou apenas para atrair a atenção do leitor (e ele mesmo admitiu isso!). O Zen aparece em um pequeno capítulo, onde o autor força completamente a barra tentando ligar tudo o que ele está falando ao Zen, que na verdade a ligação que está tentando fazer é com o livro de Eugen Herrigel, "A arte cavalheiresca do arqueiro Zen", que no livro está traduzido como "O zen na arte da arquearia". Já li o livro de Eugen e posso dizer que nada tem a ver com essa masturbação massagem de ego que o autor publicou. Me senti completamente enganada ao ler o livro, o autor critica escritores que escrevem apenas por dinheiro, dizendo que deveriam escrever por amor, mas pública um livro apelativo que mais parece aqueles com formulas magicas do tipo "como conquistar um amor em três passos". Decepção total, só não digo ter sido completamente perda de tempo porque os primeiros capítulos me deram algumas lições que eu acredito serem úteis para mim.
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