spoiler visualizarLucy Santos 14/08/2021
Quando matar se torna a solução para todos os problemas
"Apenas quando havia inteligência, inteligência real, poderia haver qualquer simpatia pela vítima."
Dever ser por isso que não simpatizei com ninguém.
Desde 2019, Ratos estava em minhas metas de leitura. Apesar da premissa ter me chamado bastante atenção, além do título curioso, sempre deixava para depois. Que infelicidade descobrir que era melhor ter adiado para sempre esta leitura.
Aqui temos menos de 300 páginas, mas poderia ter até 100 sem prejuízo algum. O início me surpreendeu, pois não sabia que se tratava de uma YA, nem da questão do bullying. Até essa parte estava interessante. Entretanto, após a explicação da mudança para uma área isolada, o ritmo passa a se arrastar continuamente. A única cena que trás uma animação para a trama é a que será o ponto de virada. E só.
O autor se repete demais. Não para de enfatizar o quão "ratos" estes personagens são. Aqui só há dois extremos: ou se é um completo covarde ou um completo babaca. E mãe e filha são as covardes mais covardes e sofredoras possíveis, para tentar atrair o máximo de empatia do público. Coisa que não conseguiu de mim.
A mãe de Shelley era, supostamente, uma advogada brilhante e muito bem-sucedida, até se casar com seu terrível pai. A mulher é uma completa mosca morta, incapaz de proteger a si mesma no escritório onde trabalha (e é assediada diariamente) ou sua filha (que quase morre após meses de bullying). Ela tem diversas provas de ambas situações e não se defende, não processa ninguém. Apenas abaixa a cabeça. Onde já se viu um advogado bundão? E, pior ainda, um advogado bundão bem-sucedido!? E Shelley não está muito atrás. Ela passou a ser maltratada por suas ex-amigas, mas permanece se encontrando com elas até ficar insustentável. Seu pai a abandonou após se casar com uma mulher mais jovem (prioridades, né!?) e levou tudo que pôde com ele, mas ela ainda quer tentar manter contato, pois ele lhe fez uma coisa legal quando ela era criança. Sinceramente, personagens tão omissos, tão capachos, não são interessantes. Além de tudo, o autor não deve conhecer nenhum adolescente, já que Shelley (com seus 16 anos) passa muito tempo filosofando de maneira nada condizente com sua idade e tem o gosto de uma senhora ao ter como crushs George Clooney e Tom Hanks.
A proposta é interessante e a cena do assassinato foi legal. A questão sobre legítima defesa é importante, pois a justiça simplesmente negligencia a situação emocional de uma pessoa tentando se defender. Principalmente em uma situação do tipo "ou eu ou ele". Pois, não era como se elas não tivessem sido ameaçadas de que ele poderia voltar e fazer pior. Nem que ele não as mataria depois de toda a perseguição. Entretanto, o autor prefere tratá-las como monstros após se defenderem. Pessoas capazes de cada vez mais atrocidades, pelo simples prazer de matar, de causar sofrimento. Mostra o quão melhores e corajosas elas ficaram após cometer o primeiro crime. E, lembrando, as duas eram capachos a vida toda e, do nada, se tornam assassinas insensíveis a dor alheia (até mesmo de animais, pois eles não são inteligentes o bastante pra podermos nos importar). Em um YA, esse tipo de mensagem não faz o menor sentido.
Com exceção dos 20% iniciais, todo o restante foi indiferente e moroso. Perdi as contas de quantas vezes eu lia uma frase e caía em um sono profundo. Os personagens são irritantes e burros, e a maior parte da leitura é dispensável, além de incongruente. Total perda de tempo.