Luiz Gustavo 05/12/2020Osman Lins não é muito conhecido fora do meio acadêmico, e isso se deve ao refinamento e à complexidade de seu trabalho literário. Eu ouvia muito o nome dele nos corredores da faculdade durante a graduação, e havia sempre um tom de receio e assombro quando as pessoas falavam sobre ele e sua obra, o que acabou me deixando com medo e me fez evitar encará-lo o quanto pude. Contudo, não tive como fugir dele no mestrado, pois "Avalovara" estava na lista de leituras da última disciplina que cursei. Reuni minhas forças, enfrentei o livro, e, de algum modo, consegui lê-lo. O que posso dizer? Osman Lins era um gênio e um monstro (gênio monstruoso e/ou monstro genial). Todos os elementos do romance são impressionantes: a (meta)linguagem, a narração, as metáforas, as referências, os tempos, espaços, personagens, temas abordados, símbolos utilizados... Praticamente TUDO está de alguma forma presente no romance. O que mais impressiona no livro é, sem dúvidas, a construção da narrativa, perfeitamente geométrica, elaborada a partir de um poema místico em latim (que é também um palíndromo), um quadrado (composto por 25 outros quadrados) e uma espiral que percorre todo o quadrado maior. Sei que isso parece não fazer nenhum sentido, mas acredite: há uma lógica por trás de tudo, e é preciso ler o livro para entendê-la. O romance é fragmentado e possui 8 linhas narrativas que se alternam entre si e evoluem progressivamente com o avançar das páginas, tendo como eixo-central a relação do protagonista, Abel, com três mulheres; e o próprio processo de criação literária, suas dificuldades e possibilidades. Sem dúvidas foi o livro mais difícil que já li, mas também o mais impressionante e genial. Não é, de forma nenhuma, uma leitura fácil, mas é uma que vale a pena ser feita pelo menos uma vez na vida.