carlosmanoelt 05/08/2024
Rememoração de uma vida agreste
Situado na segunda etapa do modernismo brasileiro, ?S. Bernardo é exemplo marcante do realismo social e psicológico, explorando temas como a ambição, a opressão e a desilusão. Narrado por Paulo Honório, um homem que, a partir de origens humildes, consegue construir uma grande fortuna no sertão nordestino. A história começa com sua decisão de comprar uma fazenda, S. Bernardo, e segue sua trajetória de ascensão social e suas interações com outras figuras chave, como a esposa Madalena, amigos e funcionários.
Paulo Honório é um personagem que encarna a ambição e a dureza, revelando um lado cruel e calculista em sua busca por poder e prestígio. Sua visão de mundo é marcada por um cinismo que reflete as realidades implacáveis de seu ambiente. A narrativa revela, através de uma introspecção crítica, o impacto da ambição desmedida na moralidade e nas relações pessoais. Graciliano Ramos utiliza uma prosa direta e seca, característica do seu estilo, para retratar a realidade dura e impiedosa do sertão nordestino. O autor destaca a crueldade e a moralidade relativa das ações humanas, mostrando um retrato cru e sem adornos da condição social e psicológica dos personagens.
É um romance complexo quanto à progressão de suas ações, e, completo em relação às representações efetivadas por meio dos personagens. As ações são, algumas vezes, abruptamente interrompidas pelo tempo, o passado retorna para explicar o presente, e, no presente, narra-se o passado. Os personagens, por sua vez, são constituídos de muita personalidade, em especial, Madalena e Paulo Honório, que permitem ao leitor conhecê-los intimamente, e assim, compreender os dois extremos que eles representam dentro da narrativa.
Se Paulo Honório, por abraçar caminhos individuais, sem se entrosar nos movimentos coletivos, foi punido, resta ao se terminar a leitura de ?S. Bernardo a sensação de que o homem, ser político, não pode aspirar à absoluta isenção e à racionalidade. Traz com ele um emaranhado de conflitos internos que lhe turvam necessariamente a razão.