spoiler visualizarClaritchia 07/03/2017
Um livro para fazer refletir
O autor consegue explorar muito bem as crises, anseios, dificuldades, desejos, acontecimentos da vida juvenil. Com um toque de ironia em alguns minicontos, humor e até mesmo tragicidade, consegue nos envolver em episódios que estão acontecendo (no caso, se você for adolescente) ou já aconteceram (se você não é mais adolescente). Com cerca de oitenta páginas, e minicontos de quatro até aproximadamente cem palavras em cada página, o livro tem por finalidade despertar os sentimentos e levar a uma reflexão em alguns casos. No seu fim há uma recomendação de mostrá-lo aos próprios pais para que haja uma compreensão por parte deles de que seu filho está numa fase de transição, mudanças e imprevisibilidade e, não apenas isso, mas relembrá-los de que eles já passaram pelas mesmas coisas e o que mais necessita nessa fase é o carinho familiar.
Alguns minicontos que mais gostei:
"Dream List:
Ficar com o Flavinho. Emagrecer dois quilos. Ganhar uma viagem para Nova York. Fazer plástica no nariz. Ficar com o Anderson. Passar sem exame em Matemática. Fazer as pazes com a Luiza. Fazer as pazes com a minha mãe. Ficar com o Carlão. Parar de fazer listas..."
"Fim de semana na praia:
O fim de semana estava ótimo. A turma foi para a casa do Luca, na praia. Só a galera, sem nenhum velho para atrapalhar. A Vanessa ficou com o Daniel, com o Carlinhos e com o Luca, é claro. A Morgana, só com o Daniel. Rolou de tudo, principalmente cerveja, uma montanha de latinha amassada dentro da churrasqueira. A noite era dia e o dia era noite. E que praia que nada! Quem se interessava por sol e areia? Foi um fim de semana "de arromba", como diriam os meus pais, porque na época deles já era assim... e acho que foi por isso que me fizeram ficar em casa."
"A última virgem...:
...envergonhada, mentiu que não era mais, assim como a penúltima, a antepenúltima..."
"Descoberto:
"Que olhos bonitos você tem", ela me disse quando tirei os óculos. E naquele instante, seu rosto era o borrão mais lindo que já vi."
"Para descontrair:
No banheiro da casa dele, os dois olhavam fixamente para o teste de gravidez.
-Mas tem que ficar rosa ou azul?
-Calma. Ainda não deu o tempo.
Passa um minuto. Passam dois. E nada. Ela começa a chorar, e gagueja:
-Ainda não aconteceu nada.
Ele pega a "caneta", trêmulo que mal consegue segurá-la:
-Será que não funciona?
-Tu comprou onde essa porcaria?
Ele também já chora, e rindo ao mesmo tempo:
-Na mesma farmácia da camisinha
"Todos iguais:
No dia vinte e oito de julho de 2005, às sete e trinta e cinco da manhã, indo para escola, Júlio Benites da Silva, 13 anos, caiu vítima de uma bala perdida. Às sete e vinte, tinha saído de casa sem dizer para sua mãe o quanto gostava dela (porque não costumava fazê-lo mesmo e também porque andavam meio brigados). Às três e quarenta da madrugada, sonhava com a Maria Alice, igualzinho aos que têm futuro."